26/03/2025
Documentário

Aeroporto Central

Em Tempelhof, antigo aeroporto desativado em Berlim, as instalações foram adaptadas para receber alguns dos milhares de refugiados que chegam à Alemanha, com esperança de permanecer como asilados. Entre eles, o jovem sírio Ibrahim, que deixou para trás toda a sua família.

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O novo documentário assinado pelo brasileiro Karim Aïnouz, vencedor de um prêmio da Anistia Internacional no Festival de Berlim 2019, retrata com muita sensibilidade a situação vivida por diversos refugiados, abrigados num aeroporto desativado da capital alemã, o Tempelhof.
 
Construído no início dos anos 1920, o próprio aeroporto é o cenário ideal para refletir sobre as mudanças históricas, que perpassaram o lugar que hoje acolhe centenas de estrangeiros desgarrados por inúmeros conflitos e guerras, uma verdadeira Babel de línguas e nacionalidades que tecem um modo provisório de convivência.
 
Acompanha-se com mais detalhes a história de Ibrahim, jovem sírio, de 18 anos, há ano e meio retido no aeroporto, à espera de obter o status de refugiado que lhe permitirá estudar, trabalhar e, quem sabe, um dia poder rever a família que ficou para trás, na Síria. Focaliza-se sua solidão, seu desenraizamento, suas esperanças, as conversas com os familiares e amigos, suas lembranças, algumas traumáticas, sua rotina nesta espécie de limbo, em que a espera marca os dias, na expectativa de que a burocracia alemã lhe conceda alguma possibilidade. Enquanto têm status de “protegidos”, como é o caso de Ibrahim, não há garantias de permanência na Alemanha. Por isso, os dias que se passam encobrem uma tensão mal-disfarçada, exasperante, sem prazo para terminar. 
 
No mesmo lugar, outros personagens confrontam suas histórias. Como um  curdo-iraquiano, que trabalha como intérprete no local, cuja esperança é poder terminar o curso de medicina interrompido; e um recém-chegado ucraniano com síndrome de estresse pós-traumático.
 
Com seu olhar atento, Aïnouz – um cearense filho de uma brasileira e de um argelino – consegue tornar sua câmera como que invisível, retratando a rotina deste abrigo, o cotidiano de inúmeros personagens, tanto refugiados como voluntários e trabalhadores que os atendem. Uma outra qualidade é inserir este espaço dentro da cidade, mostrando tanto a população dele, composta de diversas famílias, quanto a dos habitantes de outros bairros de Berlim, que usam o espaço livre ao lado do antigo aeroporto como área de lazer, andando de bicicleta e fazendo piqueniques. É o tipo do filme humanista que, sem fazer alarde, evidencia a semelhança entre seres humanos de todos os povos, evocando uma empatia que é fundamental para que todos sobrevivam em tempos sombrios.

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