08/09/2024
Espionagem Drama

Wasp Network - Rede de Espiões

Um grupo de dissidentes cubanos, no começo dos anos de 1990, foge para os EUA, onde, com apoio da CIA, trabalha para a desestabilização do regime de Fidel Castro. As verdadeiras intenções deles, no entanto, ainda serão reveladas.

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Seja lá onde o diretor francês Olivier Assayas tenha mirado com seu Wasp Network: Rede de Espiões, o tiro saiu longe do alvo, pois é impossível que um cineasta com o calibre dele – com obras como Horas de Verão, Acima das Nuvens ou a série Carlos – tenha imaginado um filme tão confuso, raso e mal resolvido como o que se vê aqui. É um projeto um tanto megalomaníaco, com elenco e equipe internacional, além da produção do brasileiro Rodrigo Teixeira, que estaria confortável nas mãos do diretor se fosse um projeto dele, e não um filme de encomenda. Por mais que Assayas tenha se empenhado, percebe-se que certas coisas fugiram do seu controle – como o tempo recorde em que um filme dessa complexidade foi escrito, rodado, finalizado e exibido no Festival de Veneza: menos de um ano. 
 
O roteiro, assinado por Assayas, parte do livro-reportagem Os últimos soldados da Guerra Fria, de 2011, do jornalista e escritor brasileiro Fernando Morais. Qualquer pessoa que tenha lido qualquer obra dele sabe como é bem escrita, com uma pesquisa profunda que dá conta de toda a complexidade. No cinema, no entanto, o escritor ainda ainda não teve sorte nas adaptações, seja com Olga, de Jayme Monjardim, ou Chatô, o Rei do Brasil, de Guilherme Fontes, ou Corações Sujos, de Vicente Amorim. A combinação do panorama histórico e como isso molda e muda as vidas pessoas é uma força motriz de seus livros. E é exatamente a falta disso um dos problemas nas adaptações cinematográficas.
 
Em Wasp Network não é diferente. Primeiro, um filme de duas horas jamais daria conta de toda a complexidade da trama original. É mais provável que uma minissérie teria mais tempo para desenvolver personagens e situações. Aqui, como se apresenta, tudo é apressado, destituído de motivações claras e convincentes para as ações. Fora isso, é um entra e sai de personagens que são descartados (ou esquecidos) sem muita lógica ou motivos.
 
A trama se baseia na história real de um grupo de cubanos exilados na Flórida, logo infiltrados em grupos anticastristas em algum momento dos anos de 1990. O roteiro, tal como a obra original, tenta não dar protagonismo a apenas uma figura. Este é um dos maiores problemas aqui, pois parecem existir vários filmes entremeados em busca de um rumo. Falta, por assim dizer, foco. No livro isso funciona, pois é dividido em capítulos e os personagens construídos sem pressa e com aprofundamento. No filme, se poderia ter elegido uma figura central e contar a história dela. Uma sugestão: a personagem de Penélope Cruz, Olga Salanueva – a mais forte aqui, e a menos caricata. Mulher do piloto René González (Édgar Ramírez), ela é abandonada por ele em Havana, de onde foge deixando também uma filha pequena, que sofrerá acusações de ser filha de um traidor. Nos EUA, ele entra em contato com um agente da CIA, José Basulto (Leonardo Sbaraglia). A história dessa personagem valeria um filme, mas Olga é obrigada a dividir os holofotes com outros.
 
Dois anos depois, um piloto, Juan Pablo Roque (Wagner Moura), nada de Cuba até a Baia de  Guantanamo, em busca de asilo político. Sua desculpa para a fuga é dizer nunca ter acreditou que Castro duraria ao fim da União Soviética. Ele vai para Miami, conhece Basulto. Mas, para o filme, esses personagens não são o bastante. A trama volta no tempo e traz Gerardo Hernandez (Gael García Bernal), que cuida dos infiltrados e os organiza na Rede Vespa. Parece confuso? E é. As idas e vindas no tempo, o desfile de personagens, as discussões políticas rasteiras, enfim, nada ajuda na compreensão do filme.
 
Assayas é um diretor meticuloso, que tem habilidade para lidar com materiais como esse – vide a série Carlos (possivelmente o motivo pelo qual foi chamado para dirigir esse filme. No entanto, parece deslocado ou sem o controle necessário para fazer um filme para chamar de seu. A maneira como se lida com a força da História é pedestre. É difícil imaginar que esses personagens extremamente caricatos e superficiais tenham existido – pelo menos, dessa maneira. Fora isso, a Guerra Fria, um assunto que, num momento de polarização como o presente, tem potencial de nitroglicerina pura, aqui se mostra mais fraca que bombinha de festa junina.
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