17/03/2025
Drama

Rosa e Momo

Rosa é uma ex-prostituta que, na velhice, dedica-se a criar filhos de mulheres como ela. Aos seus cuidados, agora está Momo, menino de 12 anos que está sendo atraído pelo tráfico de drogas. Entre eles forma-se um vínculo inusitado.

post-ex_7
Sophia Loren é a principal razão para assistir ao drama Rosa e Momo - mas felizmente não a única. A estrela italiana resume a imensidão de sua carreira, de sua história e de seu carisma para assumir o papel da despojada protagonista, recheando-a de nuances enriquecedoras. Sem esconder os sinais de sua idade (86 anos) e ostentando uma fragilidade que não só convém, como define sua personagem, Sophia injeta encanto, humanidade, raiva e doçura à sua Rosa, uma ex-prostituta agora dedicada a criar os filhos que suas antigas companheiras lhe confiaram ou deixaram para trás.
 
Ela desempenha esta missão com firmeza, carregando consigo uma biografia atormentada por lembranças que remetem à II Guerra Mundial. Rosa é judia e tem no braço a marca da passagem por Auschwitz. 
 
Habilmente, a história, baseada em romance do autor francês Romain Gary, costura uma ponte para um dos dramas atuais da Europa, a marginalidade de imigrantes deslocados, desenraizados - como são dois dos meninos sob a guarda de Rosa, Iosif (Iosif Diego Parvu) e Momo (Ibrahima Gueye). Momo é o caso mais complicado. É órfão de pai e mãe e já trilha caminhos perigosos, traficando drogas. 
 
A característica mais bem-sucedida deste filme, dirigido pelo filho de Sophia, Edoardo Ponti, é a maneira como obtém um tom realista, sem perder de vista um aceno à fantasia e à possibilidade de amor e de mudança. Há uma correspondência de angústias entre Rosa e Momo, apesar de suas histórias fraturadas, muito distintas, e tão longe em suas idades. Isto não impede que alternem papeis protetores um para o outro - num determinado ponto, será Momo a procurar assumir o cuidado dela, cuja memória começa a deteriorar-se num caminho sem volta.
 
Estreante em longas, o menino Ibrahima é simplesmente um achado, mostrando-se capaz de encarnar as alternâncias de um personagem atormentado, tão pequeno ainda já exposto a tantos perigos, contradições e escolhas difíceis. É singular como ele passa da raiva à ternura, da fragilidade à ousadia, captando os dilemas de tantos meninos como ele, vistos nas ruas da Europa e também no resto do mundo. 

Delimitado pelos contornos do melodrama, Rosa e Momo não se perde em excessos, nem resvala na pieguice barata, inserindo humor em várias passagens. Várias delas têm a participação da atriz espanhola Abril Zamora, na pele de Lola, a vizinha trans de Rosa, que sopra um ar dos filmes de Pedro Almodóvar pelo ambiente. 

O filme levou o Globo de Ouro de melhor canção original (Io Si). 

post