O documentário de Edu e Gab Felistoque apresenta músicos, performers e cantores que escolheram as ruas de São Paulo como seu palco, muitas vezes fazendo da atividade seu meio de vida.
Seus perfis e histórias são de todo tipo, assim como as ruas e bairros onde se apresentam - embora a avenida Paulista seja uma espécie de destino onde todo e qualquer gênero encontra sua esquina, como o eclético Grande Grupo Viajante. Guitarrista e cantor, Elzo Henschelle pode ser visto ao lado de um ponto de ônibus na avenida Faria Lima. A cantora Jali Kiari elegeu seu lugar na praça Osvaldo Cruz. Lamppi, ator e performer, e Cíntio Rodrigues, gaitista e produtor, têm seu ponto preferencial na central Praça Roosevelt. Também no centro velho, na praça Antônio Prado, a cantora e violonista Lilian Prado defende seu território musical de one woman show. O trio Teko Porã, que mistura música latina, irlandesa, indígena e outras mais, prefere circular nos trens do metrô da linha amarela. E os garotos do projeto Kick Bucket desafiam os clichês de toda ordem ao eleger a comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital, para exibir sua música instrumental, que inclui uma bateria formada por baldes industriais e outros recursos sonoros pouco ortodoxos.
Cada um deles tem uma história para contar sobre as vantagens e desvantagens de estar na rua, uma opção que congrega alguma independência diante dos esquemas pasteurizadores da indústria musical ao mesmo tempo que expõe a intempéries, inclusive as climáticas. Fiel a essa vocação autônoma, a maioria deles se declara autodidata.
A convivência na rua, especialmente em locais disputados como a Paulista ou alguns locais do centro velho, não raro encerra algum conflito ou concorrência de sons dissonantes. Conquistar a atenção de um público diversificado em idade, sexo, condição econômica e social, é o grande desafio unificador - que deve ser vencido para conquistar alguns reais que garantam as próximas refeições, aluguel e outras necessidades. Nem todos conseguem viver disso, dividindo a paixão pela música com outras profissões. Não é o caso de Lilian Prado. Formada em Direito, que nunca exerceu, ela garante que já comprou uma casa e um carro com seus rendimentos como cantora de rua, o que inclui a venda de seus CDs. No que depender desta trupe, tão cedo não há de faltar música pelas esquinas ou vagões de metrô de Sampa.