Décadas depois de seu lançamento, o filme de Stanley Kubrick (1928-1999) confirma o impressionante avanço das idéias que o guiaram – o motivo principal de este clássico nunca ter envelhecido.
Na época de sua estréia, a obra antecipou a viagem à Lua, que só se tornaria realidade um ano depois. Mesmo hoje, é surpreendente como os cenários, o design das aeronaves e até o uniforme dos astronautas parecem contemporâneos. Mesmo sem ter à disposição os efeitos especiais digitais ultramodernos, 2001.... deve seu prestígio ao enfoque filosófico e visionário da aventura humana neste planeta. É uma rara obra de arte adulta em seu conceito e realização, num gênero dominado pelas fitas adolescentes.
As imagens de Kubrick entraram para o imaginário do século XX e não saem da memória de quem já tenha assistido ao filme ao menos uma vez. Como esquecer os quase macacos da aurora do homem lançando ao ar o osso que se transforma em nave espacial ? Como não lembrar do imenso monolito negro pontuando as etapas da evolução humana? E o feto estelar, que sugere o eterno recomeço?
Com tantos méritos, o filme acabou vencendo apenas um Oscar, o de efeitos visuais especiais (para Wally Veeres e Douglas Trumbull), um prêmio mais do que justo. O diretor e o roteiro ficaram apenas nas indicações. Embora lançado em Cinerama, 2001... não foi filmado com três câmeras, como era normal, mas com uma somente, de 70 mm e dotada de uma lente anamórfica para alargar a imagem.
Uma das mais perfeitas parcerias entre cinema e literatura de todos os tempos, o filme, curiosamente, precedeu o livro. O ponto de partida foi um conto do escritor inglês Arthur C. Clarke, A Sentinela (51), sobre uma expedição que encontrava um objeto alienígena enterrado na Lua. Com base nesse argumento, Clarke e Kubrick colaboraram ativamente, compondo a estrutura de 2001..., que foi lançado como livro em julho de 1968, três meses depois do lançamento do filme nos cinemas.
Contrariando a lenda segundo a qual cinema de arte não dá lucro, o filme de Kubrick foi um dos maiores sucessos do estúdio Warner. Na época, custou US$ 10,5 milhões mas faturou cerca de US$ 21 milhões apenas no seu lançamento original.