Estrelado por um Ryan Reynolds mais do que à vontade, Free Guy - Assumindo o Controle se estabelece como uma comédia/aventura entre o mundo real e o virtual, de uma maneira relativamente parecida com O Show de Truman (1998) ou mesmo Matrix (1999), só que com as devidas atualizações e uma chave bem mais divertida.
Reynolds é Guy, um bancário que todos os dias pega uma camisa azul-clara do armário, alimenta o peixinho e vai sempre pelo mesmo caminho para o banco onde trabalha - não sem antes ter seu caminho atravessado pelas mesmas pessoas e os mesmos incidentes, dia após dia. Tudo isso acontece porque ele não é uma pessoa real e sim um NPC (Non-Player Character, ou Personagem Não-Jogável) dentro de um videogame de enorme sucesso, o Free City. Mas ele nem desconfia disso até que o acaso coloca misteriosos óculos ao seu alcance, mediante os quais ele vai enxergar as incontáveis possibilidades deste mundo, que até ali ele acredita real.
Sua rotina muda quando passa por ele e o melhor amigo, o policial Buddy (Lil Rel Howery), uma garota estonteante, que ele nunca tinha visto antes: a Molotov Girl (Jodie Comer), na verdade, a skin da programadora Millie. No mundo real, Millie e seu melhor amigo, Keys (Joe Kerry), tinham inventado o game Free City, mas ele foi apropriado por um empresário inescrupuloso, Antwan (Taika Waititi). Keys acabou contratado por ele, mas Millie não se conforma com a perda do controle do projeto deles e agora se infiltra no mundo virtual à procura da chave para provar este roubo.
O roteiro de Matt Lieberman e Zak Penn cria inúmeras situações, tanto no mundo virtual quanto no real, para manter a aventura com grande energia, com um visual caprichado na parte do game com a direção de arte de Steve Cooper e Beat Frutiger.
Vivendo um personagem virtual que descobre repentinamente sua condição - e que representa um prodígio em termos de inteligência artificial, pelo que ele se mostra capaz de fazer -, Ryan Reynolds mantém uma naturalidade e simpatia envolventes para este bom sujeito a toda prova. Mas é Jodie Comer quem injeta eletricidade na tela, como o elemento rebelde da história, chacoalhando tanto os homens malvados, como Antwan, como os lesos acomodados, como seu amigo Keys. Mantendo o humor sempre ao alcance da mão, o diretor Shawn Levy consegue empatia para seus personagens, injetando romance nos seus dois mundos com delicadeza e simpatia. Mesmo quem não entenda nada de games - meu caso - vai encontrar material com que se divertir. Gamemaníacos, por sua vez, poderão reconhecer gamers reais fazendo pontas, caso de Ninja, Pokimane e DanTDM.
