Shaun é um modesto manobrista de hotel em San Francisco, compartilhando sua rotina com a melhor amiga, Katy. Um dia, quando estão a bordo de um ônibus, ele tem que enfrentar uma turma de malfeitores, que tentam roubar um pingente que ele usa sempre, dado por sua mãe. Ele luta com todos, expondo sua verdadeira identidade: Shang-Chi, mestre de artes marciais e que vai ter que encarar de novo um pesado passado familiar, por conta das intenções sinistras de seu pai, Wenwu, poderoso e imortal pela posse dos Dez Anéis.
- Por Neusa Barbosa
- 30/08/2021
- Tempo de leitura 4 minutos
Apostando novamente na maior diversidade étnica, marca de filmes como Pantera Negra, o Universo Cinematográfico Marvel investe em seu primeiro protagonista asiático em Shang-Chi e a lenda dos dez anéis. O personagem teve sua primeira encarnação nos quadrinhos em dezembro de 1973, como um habilidoso mestre do kung fu, filho do criminoso Fu Manchu mas que rompia com o pai para encarar sua própria trajetória.
No movimentado e envolvente filme dirigido por Destin Daniel Cretton (O Castelo de Vidro, Luta por Justiça), fica mantido este elemento de ruptura paterna, ainda que a identidade do pai seja trocada com vantagens. O pai aqui é Wenwu (vivido com veneno e charme pelo astro chinês Tony Leung, de Amor à Flor da Pele). Um personagem que, embora indiscutivelmente o grande vilão, tem muitas nuances e um coração partido. Há muito tempo atrás tendo assumido a posse dos Dez Aneis, círculos mágicos que lhe dão muitos poderes e a vida eterna, Wenwu vive há mil anos e já conquistou tudo que estava ao seu alcance. Logo saberemos que nem todos os males ele pôde impedir e isso tem a ver com sua família e filhos.
Um deles é Shaun (Simu Liu), jovem morador de San Francisco que trabalha como manobrista num grande hotel. Sua melhor e inseparável amiga é Katy (a sempre impagável Awkafina), com quem ele divide as viagens de ônibus até o trabalho e as noites no bar ou no karaokê.
A verdadeira identidade do rapaz, que é na verdade Shang-Chi, ficará exposta de surpresa. Um dia, quando ele e Katy viajam num ônibus, ele é atacado por uma gangue de fortões, que tentam roubar-lhe o pingente que ele traz no pescoço - uma lembrança deixada pela mãe, Li (Fala Chen), que morreu. Quando luta com os malfeitores, fica muito claro que Shaun/Shang-Chi estava escondendo suas incríveis habilidades nas artes marciais, sendo capaz de voar pelas paredes, no teto e até fora do ônibus em movimento. A briga, que coloca o ônibus fora de controle pelas ladeiras íngremes de San Francisco, é a primeira sequência eletrizante de ação que conduz a história para sua vocação de aventura.
A boquiaberta Katy, a quem coube, afinal, brecar o ônibus, encara com muita emoção a descoberta da vida secreta do melhor amigo, tornando-se sua companheira numa jornada que os leva ao encontro do passado. Para começar, em Macau, onde vive a irmã há muito distante dele, Xialing (Meng’er Zheng), que dirige um movimentado clube de lutas e onde o filme encena outra sequência de tirar o fôlego, nos andaimes por fora de um alto prédio.
Se é evidente que a história depende muito das sequências de lutas e de uma alta variedade de efeitos especiais, não é menos verdade que o roteiro, assinado por Cretton, Dave Callaham e Andrew Lanham, não descuidou nem um pouco de fornecer um contexto envolvente a esta família disfuncional. Isto especialmente tirando partido de um vilão como o todo-poderoso Wenwu, impiedoso sim mas também atormentado pela obsessão com a morte da mulher - cuja voz ele ouve o tempo todo, convencido de que está aprisionada numa caverna no reino mágico de onde ela vem, Ta Lo.
Povoado de animais fantásticos, o reino será o cenário da esfuziante sequência final, para onde convergem o pai e os filhos e onde será encontrada a tia dos jovens, Ying Nan (Michelle Yeoh, outra presença magnética, que confere gravidade e carisma às cenas de que participa). Ben Kingsley é outro veterano, aliás, que faz uma participação inusitada e cômica, como Trevor Slattery, um personagem cômico e inusitado.
Bem-construída e dinâmica, a história poderia ter reservado, talvez, um pouco mais de espaço a Xialing, que desenvolveu suas habilidades marciais por conta própria e é páreo para o irmão, inclusive. Parece que, na sequência que já se prepara, a moça vai ter novas chances. Vamos esperar. Afinal, o empoderamento feminino também é uma das réguas a nortear as melhores histórias de aventuras nestes novos tempos.