14/01/2025
Drama

Sob as Escadas de Paris

Há anos, Christine vaga pelas ruas de Paris, sem morada fixa, protegendo-se à noite num abrigo improvisado, num subterrâneo sob uma das pontes da cidade. Um dia, aparece ali um pequeno refugiado africano, Suli, que se perdeu de sua mãe e sequer fala francês. Ela se empenha em ajudá-lo a encontrar a mãe.

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Alemão radicado na França, o cineasta Claus Drexel tem um interesse peculiar no drama dos desabrigados. Já realizou um documentário sobre o tema, Au Bord du Monde (2013), e agora parte para a ficção no mesmo universo, em As Escadas de Paris, com roteiro assinado por ele e Olivier Brunhes.  
 
A protagonista é uma sem-teto, Christine (Catherine Frot), que há tempos encontrou um abrigo noturno num subterrâneo sob uma das muitas pontes de Paris. Durante o dia, ela vaga pelos locais de distribuição de comida a pessoas em situação de rua. Mas, mesmo ali, entre indivíduos com problemas parecidos, ela não interage com ninguém, numa perturbadora solidão. A foto de uma criança, que ela guarda consigo, parece ser a explicação de seu trauma.
 
Um dia, ela é acordada pelo barulho da chegada de um garoto, Suli (Mahamadou Yaffa), tentando entrar em seu esconderijo. Ele é um imigrante ilegal africano e não fala francês, tendo-se perdido da mãe. A princípio, Christine o rejeita e tenta mesmo livrar-se dele. Mas sua fragilidade acorda alguma coisa dentro dela e ela resolve ajudá-lo a encontrar a mãe que, por um papel que o garoto carrega consigo, foi objeto de uma ordem de deportação da França.
 
O filme tem o tom de um conto de Natal, amparado no relacionamento entre duas pessoas que têm dificuldade de comunicação verbal mas entendem-se aos poucos com a linguagem do afeto. Os dois deslocam-se sem cessar pelas ruas de Paris, entre algumas das paisagens que são cartões postais para o mundo, mas sem desviar os olhos da presença massiva de desabrigados, geralmente imigrantes ilegais, entre os quais eventualmente Christine encontra pistas da mãe de Suli.
 
Há um quê de fábula em certos trechos, como numa noite em que o menino tem uma espécie de visão onírica da mãe e também na participação de uma exótica prostituta (Dominique Frot) que mora numa van verde com um macaco empalhado. Esse espírito também se manifesta em alguns momentos em que Christine encontra inesperados aliados, como um funcionário do aeroporto Roissy Charles de Gaulle (Jean-Henri Compère).
 
Sem  nenhuma preocupação que não seja contar uma história de bondade, o filme remete ao encanto de duplas como Charles Chaplin e Jackie Coogan em O Garoto e também aos protagonistas do mais recente O Porto, de Aki Kaurismaki - que também relatava a aproximação entre um velho homem (André Wilms) e um menino imigrante ilegal (Blondin Miguel).
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