Primeiro longa de Jacques Demy, realizado quando ele tinha apenas 30 anos, Lola, A Flor Proibida é como um objeto estranho dentro da Nouvelle Vague, num primeiro momento. Marcado por ideias românticas (muitas vezes ironizadas), uma reverência a filmes antigos (especialmente hollywoodianos) e uma certa dose de fantasia, em comum com as obras de Truffaut, Godard e companhia, o longa tem apreço pela vida pessoas comuns. A personagem-título (Anouk Aimée) é uma dançarina de cabaré não muito inteligente, mas de bom coração.
Uma outra influência clara aqui é o cineasta alemão Max Ophüls, a quem o longa é dedicado, e de cuja obra também se toma emprestado o título, que vem de Lola Montès, de 1956. Trata-se também uma espécie de prólogo ao que Demy viria a fazer e o tornaria famoso nos anos seguintes: os musicais cheios de som e extravagância, Os Guarda-Chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas.
Filmado em locação e em preto e branco, com fotografia assinada pelo lendário Raoul Coutard, Lola captura a vida esfuziante e cheia de altos e baixos da dançarina e das pessoas que a cercam. Abandonada pelo marinheiro a quem amava, ela cria o filho, cujo pai não sabe que existe, da melhor maneira que pode, e espera a volta deste homem.
Lola reencontra um amigo de infância, Roland Cassard (Marc Michel), que ainda é apaixonado por ela, mas a dançarina é fiel ao seu amor, não cede ao outro homem. Entra em cena uma garota parecida com a protagonista quando jovem, Cécile (Annie Duperoux), filha de madame Desnoyers (Elina Labourdette), que perdeu tudo na guerra.
Até hoje, Lola é um filme repleto de vigor e cenas memoráveis, embora com alguns encaminhamentos questionáveis aos olhos do presente – como o amor platônico entre uma adolescente e um marinheiro americano, mas que rende um dos momentos mais bonitos no filme, num parque de diversões. A maneira como a câmera de Demy e Coutard transita é leve e fluida, quase como um fantasma que observa os acontecimentos.
A beleza estética de Lola é impressionante, com um visual retrô e, ao mesmo tempo, moderno e vigoroso. Os problemas, como o pouco desenvolvimento dos personagens e a pouca verossimilhança na trama, na verdade, são usados em favor do filme, que se dá num mundo que toca a fantasia – em especial as fantasias na cabeça de Lola, para quem o mundo pode ser ajeitado da maneira como lhe agrada.