Viggo Mortensen, o eterno Aragorn de O Senhor dos Anéis, estreia na direção e como autor do roteiro de um longa em Falling – Ainda há tempo, no qual, ele também interpreta um dos personagens centrais, John Peterson, um ex-piloto militar, que agora atua na aviação civil e precisa abrigar o pai viúvo, idoso e cada vez mais senil. O problema não é apenas esse, o homem é assumidamente homofóbico e seu filho é gay, vivendo um casamento estável com um enfermeiro e criando com este uma filha adotiva.
Mortensen, que se estabeleceu como um dos intérpretes mais refinados da atualidade, transita entre grandes projetos, como a própria trilogia O Senhor dos Anéis, e filmes pequenos e independentes, como argentino Jauja, de Lisandro Alonso, e algumas parcerias com David Cronenberg (Marcas da Violência, Senhores do Crime, entre outros). Não custaria muito mesmo assumir a posição de diretor, e aqui o faz com um filme sutil e que se constrói nas delicadas relações familiares e interpretações marcantes.
John Peterson (Moternsen) tem uma vida feliz e equilibrada ao lado de seu companheiro, o enfermeiro Eric (Terry Chen), e da filha pequena, Monica (Gabby Velis). Repentinamente, ele precisa abrigar seu pai, Willis (Lance Henriksen), que já não pode cuidar de si mesmo sozinho. O homem, que nunca foi fácil, torna-se ainda mais difícil na medida em que perde a sanidade, falando grande desaforos para o filho, o genro e a filha, Sarah (Laura Linney), e os netos e netas. Confrontaálo pode ser necessário, mas não é produtivo – ainda assim, o filho o faz.
Mortensen conta que se inspirou em seus pais e sua infância para criar os personagens. Apesar dos impropérios, Willis se conecta de alguma forma com Monica e, com ela, tem uma relação terna de avô com neta. O mesmo não se pode dizer em relação aos filhos de Sarah, aos quais ele não perde uma chance de ofender. Henriksen, um ótimo ator, um tanto negligenciado por Hollywood (ele tem em seus créditos um papel como coadjuvante em alguns filmes da série Alien), encontra nesse papel uma grande chance para mostrar seu talento.
Entrecortando passado e presente, o filme mostra a infância de Sarah e John, e o relacionamento sempre tenso dos pais – nos flashbacks, interpretados por Sverrir Gudnason e Hannah Gross – e como esse passado se reflete no presente de Willis e seu filho. Mais do que mostrar que John era o queridinho da mamãe, Mortensen investiga como esse protagonista teve, primeiro, que se aceitar como gay para, mais tarde, se assumir para o mundo, apesar do ambiente inóspito em sua própria família.
Falling – Ainda há tempo mostra um diretor estreante bastante seguro de si e do seu trabalho. Sem recorrer a pirotecnias narrativa e visuais, tão comuns para cineastas de primeiro filme, Mortensen revela-se um bom aprendiz das práticas de diretores e diretoras com quem trabalhou – e ele citou com influencias o próprio Conenberg e Jane Campion, com quem trabalhou, no final dos anos de 1990, em Retratos de uma mulher.