08/02/2025
Drama

Nós duas

Mado e Nina são duas mulheres maduras, vizinhas de aparamento e também amantes há muitos anos. Ninguém sabe desse segredo, e tudo se complica quando uma delas sofre um AVC, ficando imóvel e incapacitada de falar.

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Nós Duas, longa de estreia de Filippo Meneghetti, um italiano radicado na França, é de uma delicadeza ímpar. É uma história de amor na maturidade, protagonizada por duas mulheres, que guardam essa paixão como um segredo por anos, até que um acontecimento inesperado complica o relacionamento. Ganhador do César, o prêmio da Academia de Cinema francesa, de melhor filme de estreante, a produção ainda concorreu nas categorias melhor atriz (Martine Chevallier e Barbara Sukowa) e roteiro original, assinado pelo diretor e Malysone Bovorasmy.
 
Madeline, também conhecida como Mado (Martine Chevallier), e Nina (Barbara Sukowa) são vizinhas de apartamento. Solitárias, estão sempre uma na casa da outra para conversar – mas o que ninguém sabe é que são mais do que amigas, são amantes há algumas décadas. Nina insiste que vendam os apartamentos e se mudem para Roma, onde poderão viver esse amor livremente. Há convenções sociais que não consegue superar, como o fato de que a filha de Mado, Anne (Léa Drucker), e o filho, Fréderic (Jerome Varanfrain), dificilmente compreenderiam o relacionamento da mãe.
 
Não fosse essa história já complicada o bastante, Mado sofre um AVC,que além de a deixar imobilizada, a deixa incapaz de falar. Nina fica desesperada, pois o amor de sua vida está incomunicável, com um segredo guardado dentro de si. Na família de sua amante, Nina é conhecida apenas como “a vizinha”, o que torna difícil encontrar uma desculpa para estar o tempo todo ao lado de sua amada. Mas isso não a impede de acreditar que seu amor é grande o suficiente para salvar a vida da outra.
 
Chevallier e Sukowa (mais conhecida de seu trabalho como a personagem-título de Lola, de Fassbinder) são o corpo e a alma do filme, que gira em torno delas. Mesmo imóvel e muda, Mado é uma força aqui. Essa condição, simbolicamente, evidencia seu estado desde sempre, de não conseguir falar para a família sobre seu romance, e sua imobilidade diante da opção de abandonar tudo e mudar-se para Roma.
 
Quando Mado volta para casa, ela está acompanhada de uma cuidadora (Muriel Benazeraf), com quem Nina entra num conflito, por conta de seu desespero para estar perto e cuidar de sua amante. Por sua vez, Anne se torna uma personagem importante em Nós Duas. Sempre muito próxima de sua mãe, ela, num primeiro momento, é grata a Nina por se importar tanto com a vizinha, mas, aos poucos, começa a estranhar o comportamento da outra e a disputar espaço.
 
Em Nós Duas, Meneghetti mostra total controle como diretor, num filme contido e profundo em sua meditação sobre os caminhos do amor e das convenções sociais. Ele dirige duas grandes atrizes em papeis que fogem da caricatura, e numa narrativa que evita facilitadores e armadilhas simplistas.
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