28/04/2025
Ficção científica

Matrix Resurrections

Sem memória do passado, Thomas Anderson vive sua vidinha como designer de games, afundado no tédio e na solidão. Ele vai sempre a um café onde vê uma mulher, Tiffany, casada e com dois filhos, que lhe desperta um sentimento misterioso. Um dia, em seu computador aparecem sinais de um estranho fenômeno.

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Não é pequeno o desafio de Matrix Resurrections, o filme em que Lana Wachowski se lança sozinha, sem a parceria da irmã Lilly, na sequência da trilogia que as tornou famosas, mais de 20 anos atrás.
 
Apoiada no roteiro dela mesma, Aleksandar Hemon e David Mitchell, Lana pisca um olho para a nova geração, inserindo uma série de caras novas no elenco, ao mesmo tempo em que dispara o gatilho da nostalgia cult, recorrendo à volta de seus dois protagonistas veteranos, Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss, cinquentões elegantes e ambos quase imunes à passagem do tempo - pelo menos fisicamente. 
 
O velho jogo de ilusões entre uma realidade ilusória, em que está aprisionada a maioria da humanidade, e um mundo real dominado pelas máquinas está de volta, mas Thomas Anderson (Reeves) e Tiffany (Carrie-Anne Moss) não parecem ter consciência disso. Nem ele nem ela se lembram das grandes aventuras juntos e de um romance que não puderam viver. Ele não se lembra que algum dia foi Neo, ela também nem sabe que atendia pelo nome de Trinity. Como Tiffany, ela é uma dona-de-casa casada e mãe de dois filhos que só ocasionalmente vislumbra Thomas tomando café na lanchonete. 
 
Este estado de coisas evidentemente não deve durar muito, sob a interferência de um novo grupo de rebeldes que sabe das coisas, liderado pela capitã Bugs (Jessica Henwick) - ela, uma das presenças mais carismáticas de um elenco que traz ainda Seq (Toby Onwumere) como seu fiel escudeiro.
 
Muitas cenas dos antigos filmes da trilogia pontuam a história, fazendo as vezes de memória para Thomas/Neo, que vai ter despertada sua consciência pelo bom e velho Morpheus - só que agora numa versão bem mais fashion e cínica, interpretado por Yahyn Abdul-Mateen II. Falando em cinismo, um dos aspectos problemáticos da história é que o humor é bem escasso.
 
O registro de Thomas/Neo é, na maior parte do tempo, um tanto catatônico  - o que é compreensível até certo ponto, já que, mesmo sem ter a memória da realidade falsa em que está aprisionado, ele sente uma profunda solidão e falta de propósito na vida. Seu cotidiano é preenchido pelo trabalho numa empresa de games, em cujos computadores Morpheus e sua nova turma vão encontrar uma brecha para começarem a atuar. Não vai ser fácil, já que Thomas vem sendo mantido sob controle com as famosas pílulas azuis, receitadas por um enigmático Analista (Neil Patrick Harris).
 
Essas idas e vindas na Matrix proporcionam as inevitáveis inúmeras sequências de lutas, que parecem bem mais violentas do que as da trilogia (aquelas, coreografadas pelo mestre chinês Yuen Wo Ping, que trabalhou com Jackie Chan). 
 
A energia que o filme procura para incendiar finalmente o coração de Neo é seu amor por Trinity, que, de sua vida anterior só guardou mesmo a paixão pelas motos - o que, certamente, vai ser útil numa das sequências mais eletrizantes da história, em que eles têm que escapar de um verdadeiro exército de bots, que mais parecem zumbis. Nesta e em outras partes do filme, há bastante diversão. Mas a velha chama que tornou Matrix uma das franquias mais cultuadas de todos os tempos parece não ter sido forte o bastante desta vez para tornar o filme memorável.
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