08/02/2025

Numa Gotham City assolada pelo crime, o prefeito Don Mitchell Jr. concorre ao quarto mandato. Seu brutal assassinato deflagra uma corrida entre o misterioso criminoso e Batman, lutando contra seus traumas pessoais e o desejo de vingança.

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O diretor Matt Reeves imprime a esta sua versão de Batman uma das visões mais dark do personagem - agora encarnado por Robert Pattinson, que injeta uma raiva sombria carregada de tristeza no duo Bruce Wayne/Batman, criado há mais de 80 anos por Bob Kane e Bill Finger. 
 
Sem preocupar-se com introduções ao universo conhecido de uma criatura que habita há tanto tempo o imaginário pop, Reeves começa em plena ação, numa história profundamente encharcada de um tom policial em que o heroísmo propriamente dito será pouco visto. A cena inicial prepara o início de uma série de crimes, cometidos por um criminoso mascarado, que usa com eficiência sinistra as redes sociais, criando espetáculos a cada morte - e tendo como alvos figuras poderosas da decadente e violenta Gotham City. Um toque adicional do assassino é deixar na cena do crime sempre uma mensagem para Batman, propondo uma charada, o que já entrega quem é o vilão por trás de tudo (interpretado com gélida eficiência por Paul Dano). 
 
Ativo contra os inúmeros criminosos nesta Gotham City descrente do poder e das instituições, Batman também não se reveste de uma aura moral. Em ação, ele se identifica como “a vingança”, traduzindo com os punhos, quando não pelas armas, uma violência que é páreo para a dos delinquentes. Mas nem assim é capaz de fazer a diferença para diminuir a criminalidade - e esse é o centro de sua crise existencial.
 
Sem mágicas ou superpoderes à mão - no máximo, dispositivos de alta tecnologia permitidos pelos recursos bilionários do herdeiro Wayne -, Batman conta com alguns contatos humanos que podem fazer a diferença para humanizá-lo. Um deles, o sempre fiel e onipresente Alfred (Andy Serkis), que o criou e assessora; o outro, o comissário James Gordon (Jeffrey Wright), que insiste em manter sua parceria com Batman, contra a vontade do resto do corpo policial; e, finalmente, uma curiosa ladra, Selina Kyle (Zoë Kravitz), capaz de esgueirar-se por frestas e telhados com a mesma capacidade dos gatos que ela tanto adora e mantém em seu apartamento.
 
Apenas estes três têm acesso à intimidade de Batman, que mantém o resto da humanidade no máximo ao alcance dos punhos - e tem boas razões para isso, no ambiente desolador de uma cidade sem lei, povoada de becos estreitos e escuros, sob uma chuva quase permanente, um visual que traduz o trabalho competente dos diretores de arte Grant Armstrong e Gliver Benson e do diretor de fotografia Greig Freiser. Este mundo sombrio resume o ponto de vista de Batman, que aprisiona também o do espectador, levado em sua garupa para compartilhar um tempo de incerteza e amargura, que se desdobra nas aflições do personagem para tentar deter o serial killer à solta.
 
O roteiro, assinado por Reeves e Peter Craig, é marcado por este tom claustrofóbico, em que o protagonista se move não só através do trauma original da morte violenta dos pais, como da dúvida existencial sobre o sentido de sua própria atuação. É este Batman amargo, obcecado, quem se insurge contra políticos, policiais e empresários corruptos, associados a mafiosos, como Carmine Falcone (um competente e cínico John Turturro), e outros criminosos intermediários, como o Pinguim (um Colin Farrell irreconhecível sob a maquiagem). 
 
Em suas quase três horas de duração - eventualmente, exaustivas -, temperadas com um uso econômico da música (assinada por Michael Giacchino, parceiro habitual de Reeves), Batman não descola o personagem de sua realidade habitual e, ao mesmo tempo, situa-o numa outra, atualizada, em que ele recoloca a própria razão de ser de sua cruzada, encontrando o seu diferencial frente a psicopatas assumidos, autoridades ambíguas e os limites de sua própria singularidade. Não é pouco para o que pode ser o primeiro capítulo da nova franquia, em que se espera que a magnética Zoë Kravitz continue fazendo a diferença como figura feminina ativa, ambígua e fatal. 
 
Prosseguindo na sua longa jornada de superação de Crepúsculo, Robert Pattinson mostra que, de algum modo, nasceu para fazer este papel, unindo raiva e força a uma vulnerabilidade que, de vez em quando, sintoniza no coração oculto do Cavaleiro das Trevas.
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