Não é preciso ser fã ou conhecedor de mangás para se envolver com o longa Jujutsu Kaisen 0: O Filme, um dos maiores sucessos no cinema japonês no ano passado, funcionando como uma prequel da famosa série de animes e livros – trazendo a história antes da chegada de Yuji Itadori. Dirigido pelo sul-coreano Park Sunghoo, o longa se concentra num grupo de adolescentes e um panda, alunos da escola que dá seu título.
O protagonista é Yuta, um jovem adolescente que está descobrindo seus poderes para exorcizar maldições, e conta com uma ajuda peculiar: Rika, uma menina com quem se comprometeu a casar, quando ainda eram crianças, mas ela morreu atropelada. Ela nunca o abandonou – ele ainda usa o anel de noivado que trocaram – e se manifesta em forma de monstro, como uma maldição que o persegue e protege. Logo na primeira cena, ela o ajuda a acabar com um grupo de garotos que faziam bullying contra ele.
Por conta de seu poder, o menino é levado para a Jujutsu, onde terá Gojo Satoru como mentor, e como colegas: Toge Inumaki, dono de uma fala amaldiçoada capaz de destruir pessoas e criaturas com palavras, por isso, numa conversa, ele só diz ingredientes de bolinhos de arroz; Maki Zen’in, uma garota empoderada, cheia de rancor e inteligência; e o panda, que não é exatamente um panda gigante, mas um corpo mutante.
Existem algumas semelhanças entre esse filme e X Men: Primeira Classe – desde o mestre e seus pupilos dotados de poderes especiais que estão aprendendo a controlá-los e usá-los para o bem. Há também os vilões, que usam as maldições para dominar o mundo e acabar com os humanos.
É interessante, por exemplo, como essas maldições se materializam. Elas tomam forma de monstros de tamanhos variados – o poder e o nível de cada uma também – geralmente com olhos gigantes ou muitos olhos. Cabe aos alunos e à aluna da escola Jujutsu destruí-las. Para isso, é preciso que alguém conjure aquilo a que chamam de cortina – uma espécie de redoma que transforma o ambiente em noite – e a batalha começa. Cada um usa suas habilidades, Maki com armas dotadas de maldição, e Toge, sua fala.
É também particularmente destacado no filme como as personagens são construídas com nuances. Embora o bem e o mal sejam coisas proeminentes, ambos podem habitar as mesmas pessoas. Nesse sentido, o vilão, Suguru Geto, é um personagem fascinante. Ele e Gojo foram grandes amigos quando estudaram na Jujutsu, mas hoje atuam de forma diferente no mundo.
A direção de Park é particularmente eficiente no uso das cores e dos traços. Jujutsu Kaisen 0: O Filme não nega sua origem como mangá, assinado por Gege Akutami, mas a usa em seu favor, na criação da ambientação e das personagens, embora sejam as maldições monstruosas que se destacam mesmo aqui. O resultado é um filme que se comunica não apenas com os fãs da série e dos livros, mas ultrapassa essa barreira e fala a qualquer público, ao tocar em temas universais como amor, medo e as dores do crescimento.