18/04/2025
Comédia Ação

O Peso do Talento

Nick Cage foi um ator de sucesso no passado, agora, sem um blockbuster há anos, ele vê sua carreira cada vez mais perto do fim. Sem trabalho, acaba aceitando ser contratado para participar do aniversário de um espanhol milionário que é seu fã. Porém, descobre que ele é traficante de armas, e a CIA irá recrutar o ator como um espião.

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Nicolas Cage num metaverso habitado, primordialmente, por Nicolas Cage. Há algumas centenas – talvez milhares ou dezenas – de pessoas que se interessariam por isso. A começar, certamente, pelo diretor e roteirista Tom Gormican, diretor de O peso do talento, protagonizado pelo ator no papel de Nick Cage. É preciso esclarecer, logo de cara, que o personagem não é o próprio ator, nem um alter ego – ele mesmo, quando reduz seu nome, assina como Nic Cage – por isso a figura é uma espécie de versão (possível, mas totalmente imaginária) do homem real.
 
O filme, cujo roteiro é assinado por Gormican e Kevin Etten, transita o tempo todo nesse jogo entre uma versão do real e a fantasia – e, em ambos casos, o ego e o desprendimento de Cage têm um papel fundamental. Ele é, ao mesmo tempo, homenageado e ridicularizado (com doçura, mas ainda assim...), num longa que, claramente, é feito por e para fãs.
 
Filmes como esse – que parece um herdeiro mais pop de O Jogador, de Robert Altman, e Quero ser John Malkovich, de Spike Jonze – jogam com a persona da figura real e todas as suas implicações. Como se sabe, Cage, que também é sobrinho de Francis Ford Coppola, mas não usa o sobrenome, tem uma carreira, no mínimo, errática, que conta com um Oscar – por Despedida em Las Vegas – e obras como Eu, Deus e Bin Laden e Reféns.
 
O Nick Cage de O peso do talento é um ator que conheceu o sucesso, mas agora está no limite, com a carreira por um fio, sem um filme bom ou de boa bilheteria há anos. A única proposta de trabalho que surge é ir para Maiorca, a convite, para o aniversário de um contrabandista de armas e ganhar um milhão por isso.
 
Ao contrário da figura real, quem tem dois filhos, o personagem tem apenas uma filha adolescente, Addy (Lily Mo Sheen), fruto do casamento com a maquiadora Olivia (Sharon Horgan), que conheceu num set de filmagem. Apesar de toda sua boa vontade, o relacionamento com a filha não vai nada bem – ele a obriga a assistir, por exemplo, O gabinete do Dr Calligari.
 
Javi (Pedro Pascal) é um grande fã de Cage, e escreveu um roteiro – embora o ator não saiba disso, pois seu agente (Neil Patrick Harris) nunca deu atenção para isso – e espera que o ator aceite fazer o papel principal. Mas ele também parece ser a única pessoa a acreditar no talento e potencial de Nick. Ao mesmo tempo, ele é coagido por dois agentes da CIA (Tiffany Haddish e Ike Barinholtz) a espionar seu anfitrião.
 
Há também um alter ego do personagem Nick Cage, uma versão mais jovem dele caracterizada tal qual Sailor Ripley, seu personagem em Coração selvagem. Os dois dialogam, e o mais jovem sempre questiona as escolhas do outro. A presença deste personagem também faz lembrar o quão ousado Nicolas Cage (o verdadeiro, é claro) já foi nos trabalhos que aceitava fazer. Agora, vai de um tiro n’água a outro – com algumas exceções, cada vez mais raras.
 
A primeira parte de O peso do talento, com divagações sobre Cage e suas escolhas na carreira, é bem mais inventiva, curiosa e divertida do que a segunda, quando o filme se torna uma comédia policial, caindo na mesmice - embora a sacada do clímax também seja bastante boa.
 
Este é, acima de tudo, um filme para os fãs de Cage, para quem cresceu vendo seus filmes e o admirando. Há uma graça no jogo da metalinguagem mas, para que isso funcione, depende basicamente da familiaridade com a obra do ator. De objetos a gestos típicos de seus personagens – até um museu dedicado a ele, construído por Javi –, tudo  contribui para a mítica em torno do verdadeiro Cage dentro do próprio filme.
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