O cinema também parece aderir a essa mistura de filme e desenho animado. O diretor Jorge Furtado usou, como forma narrativa, os excelentes desenhos de Allan Sieber em O Homem que Copiava. Michael Moore fez o mesmo em Tiros em Columbine, só que dessa vez com as animações de Matt Stone e Trey Parker, criadores do hilário South Park. Foi Só um Beijo, do ator e diretor estreante Fisher Stevens, também adota os desenhos, mas a partir do formato já experimentado em Walking Life, de Richard Linklater e Bob Sabiston. A técnica escolhida pelo diretor, que captou as imagens em vídeo digital e só depois passou para o celulóide, é conhecida como rotoscopia, onde desenhos são realizados a partir das cenas previamente gravadas.
"Esse será um daqueles terríveis erros que não podem ser corrigidos". O mote que dá margem a toda a trama, uma adaptação da peça off-Broadway assinada pelo roteirista e ator Patrick Breen, é um beijo como bem sugere o título. Ron Eldard interpreta Dag, um bem-sucedido diretor de televisão que namora a videomaker Halley (Kyra Sedgwick). Seu melhor amigo, Peter (Breen), o ator-águia de uma propaganda de amendoim, é apaixonado por Rebecca (Marley Shelton), bailarina com tendência suicida que dorme com todos e mais alguns.
Essa curiosa história de relacionamentos ambientada em Manhattan tem início quando Halley e Peter descobrem que foram traídos por seus respectivos pares. Abandonado pela namorada, Dag acaba conhecendo a agressiva garçonete Paula (Marisa Tomei). Enquanto isso, Halley desenvolve um affair com o violoncelista Andre (Taye Diggs), marido da garota com quem Peter começa a sair, Colleen (Sarita Choudhury).
Nesse cruzamento maluco de caminhos, a graça fica a cargo do humor negro e surreal ao qual a fita se entrega. Foi Só um Beijo reúne diálogos bastante engraçados que, não raro, exploram as neuroses enfrentadas por muitos casais.
Cineweb-12/6/2003