17/04/2025
Documentário

Espero que esta te encontre e que estejas bem

Numa feira de antiguidades, no Rio de Janeiro, a cineasta Natara Ney encontrou um pacote de cartas trocadas por um jovem casal nos anos de 1950. Ele morava no Rio, e ela em Campo Grande. Munida desse material, a diretora sai em busca de Oswaldo e Lúcia.

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O documentário Espero que esta te encontre e que estejas bem começou como que ao acaso. A diretora e roteirista Natara Ney encontrou numa feira na Praça XV, no centro do Rio, um maço de cartas trocadas entre 1952 e 1953, por um jovem casal. Após colocá-las em ordem cronológica, descobriu ali uma narrativa, uma história de amor cujo final lhe era desconhecido.
 
Começam aí o documentário e uma odisseia em busca de Lúcia e Oswaldo, que assinavam as cartas apaixonadas.  Ela morava em Campo Grande (MS) e ele no Rio de Janeiro, e as palavras trocadas entre eles eram repletas de amor e saudade. Natara começa a busca pelos endereços dos envelopes. Mais de cinco décadas se passaram, ela não tinha ideia do que iria encontrar – se é que iria encontrar algo.
 
É um trabalho de detetive empregado pela diretora e sua equipe, juntando pequenas pistas, pessoas que indicam outras pessoas e lugares, em busca de algo que jamais saberiam se encontrariam. Onde Lúcia e Oswaldo foram morar? Ficaram juntos?  Há um tom de suspense no filme, exatamente por ser todo permeado de dúvidas.
 
Não cabe dar spoiler do resultado da busca, pois é uma questão central em Espero que esta te encontre e que estejas bem, mas basta dizer que Natara fez um documentário instigante e carinhoso, que consegue ir além do seu tema central – a busca por Lúcia e Oswaldo – e investigar as dinâmicas do afeto.
 
A diretora se coloca em narrações em primeira pessoa, fala de um amor perdido e, aos poucos, fica claro como esse documentário se lhe torna tão caro. Durante a busca, nas diversas cidades e lugares por onde passa, pessoas diversas leem trechos das cartas, e assim a história do casal também nos é apresentada de maneira mais detalhada.
 
Enquanto mergulha em sua busca, o documentário resgata também imagens de arquivo – um trabalho de Antonio Venâncio, um dos principais nomes brasileiros na pesquisa de imagens de audiovisual – que dão conta de costumes e estéticas da época das cartas. O resultado é um documentário cheio de generosidade com seu tema e seu público, delicado e profundo em sua meditação sobre o tempo e as paixões.
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