Não é pouca a ambição do diretor Fred Cavayé e do dramaturgo Jean-Philippe Daguerre, autor do texto original, em O destino de Haffmann, um conto moral, numa Paris ocupada por nazistas, que toca em temas como fidelidade, ganância e submissão. Com um elenco excelente, o filme alcança seus objetivos numa história impressionante que, sem abrir mão de suas origens teatrais, é potencializada no cinema.
Joseph Haffmann (Daniel Auteuil) é um joalheiro que teme por sua vida e de sua família quando Paris é tomada por nazistas e os judeus são capturados. Seu único funcionário é François Mercier (Gilles Lellouche), um homem que tenta começar uma família com sua mulher, Blanche (Sara Giraudeau), mas ela tem dificuldade em engravidar.
Para se salvar, Haffmann pensa num plano: irá sair do país com a mulher e os filhos e fingir que vendeu a joalheria para Mercier. Quando as coisas melhorarem, ele voltará e retomará seus negócios. A família do joalheiro viaja primeiro e consegue fugir, mas ele, que iria depois, acaba se deparando com oficiais nazistas na estação e acaba voltando para casa. Nesse momento, os Merciers já estão morando no andar superior da loja e o escondem no porão.
O que se dá a partir daí é inesperado. Por mais que O destino de Haffmann parta de temas e questões bastante exploradas pelo cinema, o caminho do dilema moral que Cavayé toma para seus personagens causa surpresa, trazendo novas camadas à narrativa.
O filme é pensadamente claustrofóbico, com boa parte das cenas na loja, que inclui o apartamento e o porão onde Haffmann está confinado. Oficiais nazistas, de tempos em tempos, como é de se esperar, entram no local em busca de alguém escondido, mas é a ação do trio de personagens que garante frescor ao filme.
Todos, ao seu modo, são atormentados e em busca de uma redenção. O destaque é Mercier, feito por um Lellouche compenetrado, que transita entre o servilismo e a ação – às vezes, aparentemente egoísta, mas, no fundo, ele tem seus motivos, mesmo que sejam questionáveis.