É preciso dar crédito onde há em Duetto: as interpretações de Marieta Severo e da italiana Elisabetta De Palo (da série A Amiga Genial), como as irmãs Lucia e Sofia, separadas por muitas décadas, que se reencontram quando a primeira, que mora no Brasil, visita a família. Dirigido por Vicente Amorim, a partir do roteiro da produtora Rita Buzzar e João Segall, o filme aspira a ser um melodrama à italiana, mas que cai num novelão mexicano raso, disfarçado por boas atuações e um bom verniz.
Lucia abandonou os pais e a irmã, na Itália, e se mudou para o Brasil, onde construiu uma família e montou um restaurante de sucesso. Décadas depois, seu filho Marcelo (Rodrigo Lombardi, em uma cena) morre num acidente de carro. Tentando lidar com o trauma, ela convida a neta adolescente, Cora (Luísa Arraes), para viajar à Itália e rever os familiares. Mas a tragédia, avisa à garota, deve ser mantida em segredo. Outro objetivo é afastar a garota da influência da mãe, Isabel (Maeve Jinkings), com quem a sogra não se dá bem.
Chegando à Itália, é recepcionada pela irmã, e reencontra o cunhado, Gino (Giancarlo Giannini). Obviamente, há segredos de família que vão ser revelados num momento climático, mas não é preciso ser adivinho para descobrir onde Duetto vai chegar. A princípio, isso não seria, exatamente, um problema, mas os personagens são tão rasos – por mais que o trio de veteranos se esforce – que os outros problemas do filme vão se tornando mais evidentes.
Amorim é um diretor competente, mas não é mágico para superar as várias limitações da trama rocambolesca e repleta de coincidências. Na Itália, Cora encontra um cantor, Marcello Bianchini (Michele Morrone), que, curiosamente, participa de um festival na cidade onde ela está, e faz refeições no restaurante de Sofia e Gino. Além disso, esse casal adotou, anos atrás, uma rapaz brasileiro, Carlo (Gabriel Leone), e os pais dele, funcionários do restaurante, morreram num acidente, quando era criança.
Além do roteiro que nunca parece fechar as contas, a grande discrepância em Duetto é nas atuações. Marieta e Elisabetta estão em sintonia, mas é um grande problema quando Luísa Arraes está contracenando com alguma das duas – elas parecem precisar se segurar para não devorar (na atuação, é claro) a garota. Grandes atores, como Maeve e Giannini, por sua vez, ficam em segundo plano, com personagens pouco expressivos, dando a sensação de ser desperdiçados num filme que poderia ter sido bem melhor, se mais elaborado.