Pantera Negra: Wakanda para Sempre, de Ryan Coogler, encara o desafio de manter acesa a lenda de seu protagonista, Chadwick Boseman, que morreu em 2020, e dar continuidade à franquia. Compreensivelmente, o filme se inicia com o funeral do rei T’Challa e não deixa de incluir, no final, imagens do ator tão precocemente desaparecido, aos 43 anos.
No entanto, o segundo filme da franquia não poderia contentar-se apenas com o luto, projetando o futuro de Wakanda, abalado por uma série de ameaças. Potências mundiais, como os EUA e a França, querem obrigar Wakanda a compartilhar seu rico minério, o vibranium, enviando invasores ao reino e também recorrendo a um equipamento submarino que parece ter detectado uma nova fonte do precioso metal.
Do fundo do mar vem ainda outro perigo para Wakanda, na pessoa de Namor (Tenoch Huerta), o líder de Talokan, reino subaquático habitado por pessoas azuis, dotadas de extrema força e habilidade de luta, que tiveram acesso a uma outra e desconhecida fonte de vibranium.
Entre o povo de Wakanda e os Talokans, que tiveram origem no México colonial, forma-se uma rivalidade mortal, que tem como centro a captura da inusitada inventora do equipamento extrator do vibranium - e que é, nada mais, nada menos, do que uma adolescente de 19 anos, Riri Williams (Dominique Thorne).
No centro desta guerra, observada com interesse pelos EUA e, de tempos em tempos, pelo agente da CIA Ross (Martin Freeman), ancoram-se temas candentes, como a representatividade feminina, num reino comandado por elas e em que a principal guarda guerreira, liderada pela general Okoye (Danai Gurira), é também formada por mulheres.
Mais essencial do que isso é o amadurecimento da princesa Shuri (Laetitia Wright), numa Wakanda agora liderada por sua mãe, a rainha Ramonda (Angela Bassett), evidenciando a urgência de uma passagem de geração e também da redescoberta do valor da ancestralidade na mente científica de Shuri. Afinal, a princesa vai ou não tornar-se a próxima Pantera Negra? Aí entra em questão o carisma da atriz, não tão envolvente quanto Lupita Nyong’o, intérprete de Nakia, a guerreira amada por T’Challa que vivia fora do reino, no Haiti, e voltou para unir-se à resistência aos Talokans.
Além do empoderamento feminino, o roteiro, assinado por Coogler e Joe Robert Cole, contempla a possibilidade de uma aliança entre Wakanda e Talokan, tendo em vista a ameaça comum dos colonizadores externos, em busca de sua riqueza. Neste sentido, o foco numa representatividade dos povos não-brancos cresce em perspectiva, por mais que a disputa entre eles pareça insolúvel.
Evidentemente, um filme como este carrega uma enorme importância por conta da questão da representatividade étnica, de gênero e de diversidade sexual - há cenas que sugerem o lesbianismo de guerreiras de Wakanda de maneira muito sutil e natural. Sem contar todo o peso da indispensável homenagem a Chadwick Boseman. Tudo isso e mais a fragilidade do carisma de Laetitia Wright comprometem um pouco o ritmo da aventura, que aposta um pouco demais nas lutas, no aspecto bélico, sendo um pouco alongada em sua duração.
No aspecto visual, Pantera Negra… é enriquecido pelo figurino inspirado de Ruth E. Carter - que assinou também o do primeiro filme, em 2018 - e que valoriza as personagens como que adicionando uma espécie de segunda pele cheia de significados, além de uma grande beleza e originalidade.
Que se aposta numa sequência, é óbvio, como se vê, ao final, ao esboçar-se outra possibilidade de futuro para Wakanda. Como sempre, é prudente esperar até o fim dos créditos finais para ver a cena extra.