Marcos Bernstein chamou a atenção no final dos anos de 1990, quando foi lançado Central do Brasil, filme escrito por ele e dirigido por Walter Salles que fez sucesso em todo o mundo. A personagem principal era uma mulher (Fernanda Montenegro) que escrevia cartas na referida estação de trem do título. Em sua terceira ficção como diretor, O amor dá voltas, o roteirista novamente coloca as cartas como uma espécie de estopim da trama.
André (Igor Angelkort) é um jovem médico cuja vida, repleta de dúvidas, inseguranças e incertezas, o leva a mudar-se para a África, onde espera se reencontrar antes de assumir qualquer compromisso. Ele é apaixonado por Beta (Juliana Didone), mas o romance também está em crise. Durante os dois anos no outro continente, eles trocam cartas apaixonadas. A volta dele, no entanto, não é como o esperado.
Ele a encontra casada com Sergio (Kleber Toledo). Beta não é mais aquela mulher apaixonada por ele, mas ele ainda morre de amores por ela. Entra na equação Dani (Cleo), irmã dela, com quem André também parece ter uma relação complicada. Na verdade, foi ela quem escreveu as cartas, passando-se pela irmã, mas também está apaixonada pelo protagonista.
Bernstein, que assina o roteiro com Marc Bechar e Victor Atherino, conta uma história de amor contemporânea mas com esse toque retrô das cartas. O que interessa mais ao diretor aqui são os laços humanos, os relacionamentos que se complicam à medida que as pessoas se afastam e reaproximam.
O filme assume o ponto de vista de André, um sujeito perdido na vida – os anos na África não ajudaram muito nesse sentido – que tenta a todo custo se encontrar para ter um amor – de preferência, Beta. As coisas raramente saem como ele espera. Dono de um senso de humor peculiar, que encontra em Angelkort o intérprete perfeito, o personagem é cômico, mas de uma forma inesperada.
Tanto em seu cinema, como em telenovelas (como A vida da gente e Orgulho e Paixão), Bernstein preza por obras de delicadeza que investigam as dinâmicas de aproximação e estreitamento ou afrouxamento de laços de afeto. Em O amor dá voltas não é diferente. Nem sempre tudo faz sentido dentro do filme – a história das cartas, às vezes, soa forçada e deslocada –, mas o diretor conta essa história com tanto carinho por essas personagens, que os deslizes são perdoáveis.