21/03/2025
Drama

Nossa Senhora do Nilo

Gloriosa é a voluntariosa filha de um ministro hutu, que começa a estimular agressividade contra colegas tutsis, caso de Verônica e Virginia. O pretexto é um suposto ataque de rapazes tutsis à estátua de Nossa Senhora. A repercussão do episódio levará à eclosão de conflitos de repercussões trágicas, preparando o caldeirão que desembocaria no genocídio tutsi dos anos 1990.

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A autora do livro que inspira o filme, a ruandesa Scholastique Mukasonga, carrega na própria pele a experiência da trágica divisão da sociedade de seu país entre os dominantes hutus e a minoria tutsi - à qual ela mesma pertence, sendo uma sobrevivente dos massacres étnicos ocorridos em seu país, nos anos 1990.
 
O diretor afegão Atiq Rahimi (de A Pedra da Paciência), que adaptou o livro com Ramata Sy, injeta urgência na história, ambientada em 1973, num colégio feminino interno católico. Ali estudam garotas de várias camadas sociais, algumas filhas de dirigentes do país,outras de origem mais humilde, com bolsas de estudo. Nessa espécie de resumo da nação, começam a esboçar-se tensões étnicas que não tardam a atravessar os muros da escola.
 
O filme estabelece, a princípio, um retrato do ambiente, apresentando as diversas alunas, sua rotina de estudo e trabalho, em que salta à vista a permanência de alguns dos valores e hábitos dos colonizadores franceses, dos quais obteve-se a independência em 1962. 
 
Gloriosa (Albina Kirenga) é a voluntariosa filha de um ministro hutu, que começa a estimular agressividade contra colegas tutsis, caso de Verônica (Cariella Bizimana) e Virginia (Amanda Mugabezaki). O pretexto é um suposto ataque de rapazes tutsis à estátua de Nossa Senhora, danificando seu nariz - na verdade, um feito cometido pela própria Gloriosa.
 
A repercussão do episódio levará à eclosão de conflitos de repercussões trágicas, preparando o caldeirão que desembocaria no genocídio tutsi dos anos 1990. 
 
O diretor é eficiente na composição do ambiente interno do colégio, embora o andamento da história atenda a algum didatismo, sem comprometer a seriedade do tema geral. O desenvolvimento das personagens das garotas também é um tanto unilateral, levando-as a representar tipos, mais do que personagens complexas. Mesmo a vilã, Gloriosa, carece de nuances, que não são devidamente desenvolvidas igualmente em Modesta (Belinda Rubango), menina atormentada por ser de uma família mista. 
 
A própria ambiguidade do colonialismo, representada pela figura do fazendeiro francês Fontenaille (Pascal Gréggory), é apenas esboçada, já que a história tem outro objetivo, que visa ressaltar a preparação do massacre. E este objetivo é plenamente atingido pelo filme.
 
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