Diretor de Girl - O Florescer de uma Garota, que venceu três prêmios em Cannes 2018 (Caméra d’Or, prêmio Fipresci e Palma Queer), Lukas Dhont examina em Close a amizade de dois meninos de 13 anos, Leo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele). Inseparáveis por muito tempo, eles sofrem uma ruptura nesta intimidade quando se iniciam as aulas e Leo, incomodado com sugestões sobre os dois serem gays, começa a manter distância do melhor amigo.
Menino sensível, Rémi se ressente deste afastamento e tem uma reação drástica, que muda o destino de todos e permite que a história aprofunde seu mergulho na dinâmica das duas famílias, da pequena comunidade e especialmente nos dilemas de Leo diante de uma culpa com a qual ele não consegue lidar.
A maneira como o filme desenvolve estas relações, em particular entre a mãe de Rémi, Sophie (Émilie Dequenne, de Rosetta), e Leo, e o toque sutil como se acompanham as reações do menino a partir simplesmente de suas expressões faciais, dão a Close o seu material mais precioso e comovente. Estreantes na tela, os dois garotos mostram um talento refinado, burilado pela direção precisa de Dhont.
Por tudo isso, Close revelou-se um filme capaz de emocionar sem jamais abandonar o tom sutil, afastando-se de qualquer pieguice e mergulhando na psicologia de pré-adolescentes de uma maneira muito profunda e respeitosa, inserindo-os já no limiar da vida adulta, diante de dilemas muito maiores do que sua experiência de vida.
A maneira como o diretor trabalha suas atmosferas, suas dinâmicas entre os atores, dão à situações uma temperatura de vida real, uma autenticidade à flor da pele que carrega o espectador para dentro do filme.
Embora, a rigor, se trate de filmes muito diferentes, não deixa de haver uma estranha sintonia entre Close e o drama irlandês Os Banshees de Inisherin, de Martin Donagh, no sentido de que ambos tratam da ruptura de longas amizades entre dois protagonistas masculinos. Com todas as reservas, é claro, para as diferenças generacionais observadas nas duas histórias, elas carregam em comum o foco no efeito devastador que a perda de um amigo pode acarretar na vida das pessoas.
Pelo conjunto de todas essas características, o filme obteve merecidamente o Grande Prêmio do Júri em Cannes 2022 - onde disputou avidamente as preferências de muitos jornalistas para que lhe fosse atribuída a Palma de Ouro, que ficou para O Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund - e ganhou uma vaga entre os cinco finalistas ao Oscar de filme estrangeiro.