26/04/2025
Drama

Alcarràs

A vida de uma família de agricultores catalães muda radicalmente quando morre o dono das terras onde moram e trabalham e os herdeiros decidem vender a propriedade - rompendo um antigo acordo verbal dos agricultores com o falecido. Na Mubi e Prime Video (para compra e aluguel)

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Diretora do sensível Verão 1993, a jovem cineasta catalã Carla Simón, 36 anos, encantou Berlim com o drama Alcarràs, que venceu merecidamente o Urso de Ouro 2022. Trata-se da crônica visceral da vida de uma família de agricultores ameaçada pela disposição dos proprietários da terra de mudar radicalmente o seu uso. A família, que há duas gerações planta frutas ali, não tem o título da propriedade - décadas atrás, valia a palavra que hoje a geração atual não respeita mais, para angústia do patriarca, Rogelio (Josep Abad).
 
Com uma câmera sempre muito próxima da pele de seus personagens - trabalho de Daniela Cajías -, o filme situa o drama de Quimet (Jordi Pujol Dolcet), sua mulher, Dolors (Anna Otin), seus filhos e outros parentes, de uma forma muito urgente, alternando os olhares, os pontos de vista. Assim, coloca em foco a ameaça não só a uma família, mas a um modo de vida, dentro de uma perspectiva inclusive ambiental, de uma forma muito inteligente e intimista ao mesmo tempo. 
 
O tema do filme é caro à diretora que, como lembrou no seu discurso de agradecimento em Berlim, vem de uma família de plantadores de pêssegos naquela região catalã. O elenco, aliás, é todo amador, atuando num filme pela primeira vez e com uma naturalidade que se aproxima do documental, já que estão interpretando situações próximas à sua própria vida.

Nutrindo-se dessa vivência pessoal da diretora, o roteiro, assinado por ela e Arnau Vilaró, permite à história ter uma organicidade natural, ainda que assinalando as fronteiras dramáticas de modo a retratar um coletivo. Cada um dos personagens, por menor que seja, tem uma função dentro do enredo, construindo uma obra coral, de imersão num ambiente que permite identificar o que está em risco, dentro da eterna tensão entre tradição e mudança.

Carla Simón, credencia-se, assim, a ocupar um espaço de maior importância no cinema mundial, entre as várias diretoras que têm despontado nos últimos anos, com uma obra singular, que tem uma assinatura, uma sensibilidade e uma potência. 

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