Tomando como título um dos gritos de guerra mais conhecidos da torcida corinthiana, o documentário Vai Corinthians!, dos diretores Marcela Coelho, Ricardo Aidar e Daniel Kfouri, busca recuperar alguns dos bastidores daquela que é, até agora, a maior conquista do time fundado em 1910: a vitória da primeira Libertadores e o bicampeonato do Mundial de Clubes, no Japão, em 2012. Isto do ponto de vista da torcida, não dos jogadores.
É no Japão que se realiza as entrevistas mais curiosas do filme que, naturalmente, ouve diversos torcedores brasileiros que viajaram até o Japão - e não foram poucos os sacrifícios, tanto por parte daqueles notoriamente mais abonados como daqueles com menos recursos financeiros, que recorreram a rifas, venderam carros e até largaram o emprego para viver aquele sonho único.
Entre os japoneses, no entanto, a conversa é outra. Há diversos jornalistas locais que acompanharam os jogos do Corinthians no Mundial, manifestando memórias vívidas, nem tanto dos jogos em si e sim do comportamento da torcida alvinegra - que é famosa por dizer que é uma torcida que tem um clube e não vice-versa.
A torcida corinthiana começou, aliás, a atrair a atenção da imprensa japonesa antes mesmo de sair do Brasil. Um exemplo é a festa, com cerca de 15.000 pessoas, no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, de despedida dos jogadores e torcedores que embarcavam. Os japoneses, que assistiam isso tudo pela televisão, nunca tinham visto nada igual, e muito mais estava por vir quando os milhares de corinthianos chegaram.
Muitos desembarcaram, aliás, nem sabem direito como. Foram para o Japão na raça, sem reserva de hotel, hospedando-se na casa dos brasileiros, os chamados “dekassegui”, que moram no Japão. Para os que sobraram, houve um jeitinho - um hotel recém-fechado e que foi reaberto, sabe-se lá como, para acolher os brasileiros. Como o local ficava ao lado de um cemitério e era meio sinistro, segundo os depoimentos, logo ganhou o apelido de “hotel-fantasma”.
Um anjo protetor da torcida em trânsito foi Honda Noriharu, que quebrou galhos não só com vistos e hospedagem como refeições para uma parte deste contingente que partiu de São Paulo com pouco mais do que a cara, a coragem e a paixão pelo time.
Nas ruas de cidades como Toyota, onde ocorreu o primeiro jogo, em 12 de dezembro de 2012, contra o Al-Ahly, e Yokohama, lugar da final contra o Chelsea, quatro dias depois, a paisagem humana rapidamente se modificou. Era praticamente impossível andar pelas ruas e não ver vários grupos de corinthianos ostentando na roupa os sinais de sua paixão futebolística. No metrô, a regra do silêncio foi totalmente quebrada: os torcedores brasileiros cantavam em altos brados nas plataformas e nos trens, espantando os japoneses.
A surpresa aumentou ainda mais, como era natural, dentro dos estádios, especialmente no dia da final. Diversos torcedores japoneses, que haviam comparecido com as camisas azuis do Chelsea, foram conquistados por tanta animação. Ao final do jogo, vencido pelo Corinthians com um golaço de Paolo Guerrero, muitos desses torcedores nipônicos tiravam as camisas azuis, trocando-as pelas alvinegras que pudessem obter. Alguns guardam essas camisas e essa simpatia pelo Corinthians até hoje. Existe até uma subsede da Gaviões da Fiel, a maior torcida organizada do time, no Japão.
Se, desse lado humano, o documentário é bastante rico, o mesmo não se pode dizer dos lances dos jogos. Inclusive, falta uma imagem mais próxima do histórico gol de Guerrero.