Sempre cogitado para ser o novo James Bond, o veterano ator inglês Idris Elba entra na pele de um velho conhecido, o policial londrino John Luther, que interpretou por quase 10 anos na série homônima da BBC, agora no filme Luther: O Cair da Noite. Não há nuance do personagem que ele desconheça e, ainda assim, o ator encontra nuances para manter o interesse neste detetive experiente, melancólico e dedicado a ponto de não hesitar em atravessar alguns limites éticos e até legais para esclarecer seus casos.
Dirigido por Jamie Payne - que conduziu a quinta temporada da série -, o filme tem roteiro do bom e velho Neil Cross, o criador da criatura, e não se afasta, portanto, das fronteiras que mantiveram o interesse da série, no ar entre 2010 e 2019. Pode-se esperar, portanto, um toque sinistro e sangrento.
O inimigo da vez do policial é David Robey (Andy Serkis, mais assustador do que o Gollum digital de O Senhor dos Aneis), um serial killer ardiloso, capaz de mover chantagens arrepiantes, que estão levando à morte várias pessoas - algumas, até por suicídio. Requer-se uma inteligência refinada para detetar os movimentos deste matador implacável, que logo identifica em Luther um inimigo à altura. Por este motivo, empenha-se em neutralizar o policial, montando contra ele um polpudo dossiê, que acumula provas de malfeitos inclusive reais do passado e, por isso, o leva à prisão.
Nada mais perigoso para um policial do que estar na prisão, onde todos os demais detentos não perdem qualquer oportunidade de tratá-lo com violência. A vida de Luther não vale nada ali dentro e ele está angustiado porque deixou à solta um matador desvairado - que ele tinha jurado capturar à mãe de uma de suas vítimas, Corinne (Hattie Morahan).
Ator que já brilhou vivendo papeis como Nelson Mandela, o herói Heimdall, advogado e gênio da lâmpada, entre vários outros, Idris Elba convence como este policial atormentado, nada herói, capaz de jogar para o alto os regulamentos mas que nem por isso perde a simpatia do público pela honestidade com que se lança em suas missões. Assim, é questão de tempo que ele elabore um plano de fuga para continuar sua perseguição do serial killer.
Do lado de fora, Luther sabe que não poderá contar com a ajuda de sua substituta, Odette Raine (Cynthia Erivo). Quando muito, talvez, com seu ex-chefe, o superintendente Martin Schenk (Dermot Crowley), desde que ninguém fique sabendo.
Mas, de todo modo, Luther na rua em seu indefectível sobretudo preto não é exatamente uma figura que passe despercebida. Todos estão à caça do policial fugitivo, enfrentando um assassino que sabe usar muito bem as redes sociais e a deep web. Assim, o filme enfileira sequências de ação eletrizantes, como a mansão dos horrores, o caos em Piccadilly Circus, uma perseguição nos túneis do metrô e também a sequência final, no gelo da Noruega - na qual, é verdade, observam-se alguns excessos. De toda forma, apesar destes senões, não dá para deixar de comemorar a volta de Luther e a diversão eletrizante que ele proporciona.