Representante sindical da Confederação Francesa do Trabalho na gigante nuclear francesa Areva, Maureen Kearney é vítima de um atentado em sua casa, em 2012, no momento em que se opunha a negociações secretas com a China que poderiam custar muitos empregos locais. Durante a investigação, no entanto, sua credibilidade é posta em dúvida e ela é acusada de auto-atentado.
- Por Neusa Barbosa
- 18/04/2023
- Tempo de leitura 2 minutos
Custa a crer que esta tenha sido uma história real, tamanhas as intrigas e reviravoltas que cercaram a vida de Maureen Kearney. Irlandesa radicada na França, ela foi por vários anos a representante sindical da Confederação Francesa do Trabalho na Areva, uma gigante da energia nuclear do país.
Interpretada por uma Isabelle Huppert de cabelos louros - como a personagem verdadeira -, Maureen ganha na tela uma encarnação precisa de sua força e tenacidade. A sindicalista é irredutível na sua luta em garantir que os empregos na gigantesca empresa nuclear sejam protegidos de mudanças e cortes drásticos. Enquanto dura o reinado da presidenta da empresa Anne Lauvergeon (Marina Foïs), há um entendimento franco entre as duas mulheres. Mas isto muda quando Anne é substituída pelo presidente Nicolas Sarkozy por Luc Oursel (Yvan Attal).
Uma trama empresarial obscura, envolvendo a EDF (Electricité de France) e empresas chinesas está em curso e o novo presidente da Areva está totalmente engajado nesta operação. Com um estilo truculento, totalmente distinto de Anne, Oursel vê na sindicalista um obstáculo a remover de seu caminho. Há poderosos interesses econômicos e políticos em jogo.
Em dezembro de 2012, Maureen sofre um atentado em sua casa, sendo amarrada e violentamente agredida. O caso se torna um escândalo nacional e abre-se uma investigação. No decorrer dela, no entanto, policiais apontam supostas contradições no relato de Maureen, que os levam a desconfiar de que este pode ter sido um auto-atentado. Será?
Um ponto preciso explorado no filme de Jean-Paul Salomé (que repete a parceria com Isabelle Huppert que teve em A Dona do Barato) é que Maureen não encarna o perfil da “boa vítima” - um preconceito que atinge com frequência mulheres fortes. Isabelle Huppert, por sua vez, talvez tenha imposto um pouco além do razoável sua persona à personagem, que talvez eventualmente desejássemos um pouco mais ambígua. Talvez a direção pudesse ter dosado isto melhor no filme - que tropeça um pouco no ritmo ao tentar explicar as inúmeras complexidades da trama político-empresarial.
O filme se recupera disso, porém, em seu terço final, que mostra uma reviravolta da personagem e também sustenta melhor suas ligações com o marido, Gilles (Grégory Gadebois), a filha Fiona (Mara Taquin), e até com sua ex-chefe, Anne - que ao longo do filme parece esconder que sabe mais do que revela.
Não é uma mistura simples a que faz aqui o diretor, mesclando drama, suspense, espionagem, política, investigação policial. Não é de se espantar que eventualmente tenha perdido a mão, aqui e ali. Mas aqui se está diante de um elenco muito dotado, reconstituindo uma intriga energética verdadeira que ainda hoje tem repercussões na França e oferece exemplos para o resto do mundo.