Trabalhando como au pair na Irlanda, na juventude, a francesa Joan aoaixonou-se por Doug, um jovem fascinante e também batedor de carteiras. Depois de um incidente, ela é levada de volta à França por seus pais. Tornando-se mais tarde uma editora de sucesso, ela não sabe, porém, como lidar com o maior drama de sua vida.
- Por Neusa Barbosa
- 25/05/2023
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Segundo filme do diretor francês Laurent Larivière, Uma vida sem ele se constrói em torno de um roteiro e de uma montagem em ziguezague, deslocando-se entre diferentes períodos da vida de sua protagonista, Joan Verra (Isabelle Huppert).
É muito fácil entender porque La Huppert se presta com precisão para interpretar esta mulher cuja opacidade intrigante nos faz perder o passo sempre que tentamos segui-la em suas digressões na própria história, desatadas a partir do reencontro com uma figura chave de seu passado, seu primeiro amor, Doug (Stanley Towsend).
Um flashback na Irlanda retrata Joan (aqui interpretada por Freya Mavor) e Doug (Éanna Hardwicke) vivendo uma paixão juvenil entremeada de perigo, já que Doug é um habilidoso batedor de carteiras. Desta adrenalina se nutre também a jovem Joan, cuja carreira de meliante, porém, é rapidamente interrompida com uma volta à França patrocinada por seus pais.
Joan estava grávida e uma cena rápida fornece a razão pela qual ela não contara a Doug sobre o nascimento de Nathan na época. Mas por que não lhe revelara tudo no reencontro, em que ambos, maduros, pareciam ter deixado para trás eventuais mágoas?
O filme prossegue, apagando pistas, alternando momentos da vida de Joan, que se tornou uma bem-sucedida editora de livros, ao lado de um Nathan criança (Louis Broust), adolescente (Dimitri Doré) e finalmente adulto (Swann Arlaud). Outra figura masculina é Tim Ardenne (Lars Eidinger), um talentoso mas instável escritor descoberto por Joan e que é perdidamente apaixonado por ela, que lhe resiste.
Central na vida destes poucos homens, Joan viu-se privada da figura materna, Madeleine (Florence Loiret Caille), que abandonou a família para viver uma paixão no Japão. Desta e de outras ausências nutre-se a personalidade misteriosa de Joan, cuja intimidade numa grande casa no campo permite aos poucos decifrar-se a partir de reviravoltas no arco do filme.
O diretor Larivière, também co-roteirista ao lado de François Decodts, mostra claramente o interesse em esconder seu jogo, como um jogador de cartas que procura ocultar o que pretende lançar na mesa. Apoiado num elenco sólido, constrói, assim, um filme envolvente, capaz de manter a atenção e não notoriamente previsível, ainda que não seja totalmente satisfatória a solução dada a um dos mistérios da vida de Joan. Ainda assim, não é um filme banal nem facilitador, embora se pudesse desejar um pouco mais de flexibilidade no retrato de Joan. Este é, no entanto, o espaço ideal para uma atriz como Isabelle Huppert, que conduz com a habitual firmeza o jogo proposto pelo diretor.
Um dos aspectos mais elaborados do filme para manter seu jogo de ambiguidades - que o título brasileiro reforça bem mais do que o original - é no aspecto visual, na fotografia de Céline Bozon na montagem de Marie-Pierre Frappier. A música de Jerôme Rebotier, igualmente, se faz sentir precisa sem insistência demasiada.