27/03/2025
Documentário

Máquina do Desejo

Um dos principais grupos de teatro do Brasil, o Teatro Oficina é o tema desse documentário premiado, que acompanha sua história desde a fundação, passando por montagens e momentos marcantes de sua trajetória.

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A Menção Honrosa e o prêmio de EDT de melhor montagem, ambos no festival É Tudo Verdade de 2021, para Máquina do Desejo, de Lucas Weglinski e Joaquim Castro, é muito merecido. O filme mergulha na história da famosa companhia teatral paulistana, liderada por José Celso Martinez Corrêa, resgatando registros de um dos principais grupos tetrais brasileiros, e, agora, após a morte de Zé Celso, o longa é, também, uma homenagem a essa figura e sua força criativa e contestadora. 
 
“Não queríamos participar daquela classe média medíocre. Não queríamos fazer parte daquela pequena burguesia de São Paulo”, diz uma voz sobre imagens de uma São Paulo antiga, da época da fundação do grupo, em 1958. Poucos anos depois, uma montagem de Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, faz enorme sucesso, pois, como se diz no filme, “falava de nós mesmos.”
 
O grupo é definido como “um teatro feminino, mais um matriarcado”, especialmente quando esteve sob o comando de Etty Fraser e Ítala Nandi. Máquina do Desejo acompanha a evolução do Teatro Oficina de forma cronológica, com um material de arquivo bastante rico e depoimentos que, muitas vezes ajudam a compreender o que se vê. Essas falas são apenas ouvidas e, mesmo nem sempre se sabendo quem fala, não faz diferença, pois as diversas vozes servem como um coro para a história oral que o documentário conta. O recurso tem o poder também de criar uma moldura mais criativa, não tradicional, que tem tudo a ver com um documentário sobre um grupo que nasceu transgressor. 
 
Por outro lado, o filme não deixa de ser uma investigação da história recente do país, passando pelas fases do Teatro Oficina, seus altos e baixos, enfrentamentos com a censura e dificuldades financeiras. Estas parecem permanentes, por isso, não são poucos os protestos em prol da cultura, dos investimentos no cinema e teatro. Há também momentos inusitados, como uma leitura improvisada de As Bacantes, feita por Elke Maravilha, e Paulo Maluf, num momento em que Zé Celso foi ao gabinete do político em busca de verbas para reforma do Teatro da Oficina.
 
Em certa medida, o grupo Teatro Oficina se confunde também com o prédio que ocupa, no bairro do Bixiga, em São Paulo. A sede, cujo projeto arquitetônico é assinado por Lina Bo Bardi e Edson Elito, tombada desde 2010, é ameaçada pelo Grupo Silvio Santos que pretende construir torres no terreno ao seu lado, descaracterizando o local, conforme explicam os letreiros finais do documentário.
 
Máquina do desejo é um documentário, de certa forma, funcional, e isso é positivo, na medida em que pretende apresentar a história do Teatro Oficina ao longo dos seus mais de 60 anos, destacando as principais montagens e evolução estética. Por isso mesmo, é bastante eficiente em sua proposta de registrar uma página importante da cultura brasileira, mantendo-a viva para a posteridade.
 
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