15/03/2025
Drama

Além do Tempo

Um casal de navegadores perde, inexplicavelmente, o filho numa viagem. Anos mais tarde, ainda vivem consumidos pela culpa e buscando explicações. Viveram separados mas tornarão a se encontrar.

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O drama holandês Além do Tempo, de Theu Boermans, vale-se de um subterfúgio um tanto barato: a morte de uma criança para contar a história de amadurecimento de dois adultos, no caso, seus pais. Johanna (Sallie Harmsen) e Lucas (Reinout Scholten van Aschat) vivem velejando pelo mundo com o filho pequeno, Kai (River Oosterink). Todos são muito loiros, muito ricos e muito felizes, até que a tragédia se abate sobre eles.
 
Num momento de distração de poucos segundos, Kai some. A princípio, acham que ele está brincando de se esconder no veleiro, procuram por todos os lugares, até que bate o desespero. O menino não está ali, começam a olhar ao redor do barco, no mar, e nada. O garoto sumiu, sem deixar vestígios. Não há outra explicação, se não que ele caiu no mar. Mas seu corpo nunca aparece também.
 
Os anos passam, Johanna e Lucas se separam, tentam seguir com a vida, mas é impossível –  além da dor da perda, há um enorme sentimento de culpa. O filme parte de uma história real – o acidente com a criança – para criar uma ficção sobre os caminhos da vida do casal, e, parece dizer que a arte é a saída. Algumas décadas mais  tarde – com o casal central agora interpretado por Elsie de Brauw e Gijs Scholten van Aschat (pai do ator que faz Lucas mais jovem) –, Lucas cria um balé comovente sobre a perda do filho.
 
Além do Tempo poderia ser um filme investigando o luto, a perda e a culpa. Mas sua narrativa, com roteiro assinado pela romancista Marieke van der Pol, usa muito facilmente elementos de pura manipulação, a começar pelo ponto de partida da história. Além disso, há uma trilha sonora incessante que, ao invés de acentuar as emoções, torna-se intrusiva e distrativa.
 
O casal jovem passa o tempo todo brigando e se reconciliando, uma dinâmica que se repete à exaustão. Por isso, o filme tem um ganho quando entram em cena os pais de Kai na maturidade, tanto pelas interpretações quanto pela evolução das personagens. Nessa parte, Além do Tempo cresce um pouco, mas aí já é um tanto tarde. Os estragos estão feitos, e não há esforço que transforme o resultado final.
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