Nem mesmo o inegável talento do ator Franz Rogowski é capaz de salvar Passagens, de Ira Sachs, um confuso e inverossímil triângulo amoroso, integrado por seu personagem, o cineasta Thomas, a jovem Agathe (Adèle Exarchopoulos) e o companheiro dele, Martin (Ben Wisham).
Tudo gira em torno do desejo desenfreado e egoísta de Thomas, que conta com a benevolência constante desse companheiro, que parece tolerar essas manifestações, aparentemente constantes depois da conclusão de cada um de seus filmes. Mas agora há um componente novo: a moça com quem ele se envolveu está grávida e Thomas quer acreditar que pode integrar o bebê num triângulo que envolve de novo seu antigo companheiro - justamente no momento em que Martin se liga amorosamente a outro homem, Amad (Kepoa Falé).
Da maneira como os personagens são desenvolvidos, nenhum deles causa a menor empatia, Thomas, menos do que todos. Na porção final, seus dois parceiros parecem retomar alguma dignidade e auto-estima, que os leva em direções melhores do que até aqui. Mas falta uma coerência nessa paixão e o filme desaba na mais absoluta falta de interesse e vazio.
Custa a crer na afirmação de Sachs, de que teria se inspirado em O Inocente, de Luchino Visconti, que era, aquele sim, uma voragem de paixões descontroladas, encenadas na tela com o habitual equilíbrio e contundência do refinado diretor italiano. Sachs não repete nenhuma das qualidades do mestre, num filme equivocado e esquecível, que foi exibido na seção Panorama de Berlim.