14/12/2024
Documentário

Vidas descartáveis

O trabalho análogo ao escravo no Brasil está no centro desse premiado documentário, que acompanha casos desse tipo de exploração que aconteceram em diversas regiões do país, trazendo depoimentos das vítimas.

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Não são raras as notícias de descoberta de trabalho análogo a escravo no Brasil. Vidas Descartáveis, de Alexandre Valenti e Alberto Graça, é um trabalho investigativo que atravessa o Brasil acompanhando e denunciando alguns desses casos. Uma questão é central aqui: a busca pela dignidade dessas pessoas – uma palavra que, aliás, é sempre repetida aqui, e não por acaso.
 
Embora tenha um formato mais próximo do telejornalismo do que exatamente do cinema, o documentário cumpre com uma nobre função social: a de mostrar esses casos, que acontecem em todos os cantos no Brasil, das grandes fazendas às metrópoles. Ao dar voz às próprias vítimas dessa exploração, o filme tem um ganho enorme por trazer relatos das experiências em primeira pessoa. Ao mesmo tempo, os depoimentos do outro lado, dos exploradores, por mais que tentem se defender, só corrobora a hipótese do trabalho análogo à escravidão.
 
As histórias são sempre muito próximas, os elementos, com algumas variações, se repetem. A tortura física e psicológica são as formas mais comuns usadas para dominar os trabalhadores e trabalhadoras. Alguns exploradores justificam suas ações como “uma questão cultural”, que acontece em todos lugares.
 
Já em São Paulo, por exemplo, pessoas são ludibriadas com promessas de uma boa vida, de salário de mil dólares, trazidas de seus países de origem – em especial Bolívia, Peru e Paraguai. Ao chegar aqui, quando descobrem a realidade da proposta, não tem como fugir mais. São histórias, novamente, de horror da exploração e da perda da dignidade.
 
Premiado no CinePE em 2019, Vidas Descartáveis tem sua força na denúncia, especialmente pelos depoimentos de uma grande quantidade das vítimas da exploração do trabalha análogo ao escravo. Como bem lembra o jornalista Leonardo Sakamoto, as empresas que utilizam esse tipo de trabalho o fazem não por questões morais, mas sim financeiras. É a radicalização da exploração do trabalhador. E, como também explica Roque Renato Patussi, diretor do Centro de Apoio e Pastoral do Imigrante, esse tipo de coisa só deixará de existir com a redistribuição de renda.  
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