Uma família extraordinária talvez seja apenas a versão neurodivergente de No ritmo do coração. Tudo é bastante próximo do filme oscarizado, seja no ponto de vista da narração, ou nos caminhos da trama: a filha que precisa se desprender dos pais para seguir em frente.
O diretor estreante Matt Smukler baseou-se nas experiências de sua própria sobrinha, filha de pais neurodivergentes, para contar a história de Bea (Kiernan Shipka), uma adolescente que precisa acreditar mais na capacidade de seus pais para seguir com sua própria vida. O filme começa com ela num coma, contando a história de como chegou até ali.
E começa com sua mãe, Sharon (Samantha Hyde), conhecendo seu pai, Derek (Dash Mihok). Como ela mesma diz, cresceu ouvindo que seus pais eram “especiais”, um eufemismo para o que ela chama de “retardados”, usando o termo chulo que não se aplica. Derek e Sharon têm um olha peculiar para a vida, e nada os impede de seguir em frente e alcançar seus sonhos – embora suas famílias sempre estejam preocupadas com eles.
Bea cuida deles desde pequena, e agora, na adolescência, acredita que não deve ir para uma faculdade em outro lugar – suas notas são excelentes, e ela tem chances de entrar em universidades de prestígio, mas que ficam longe de casa. No fundo, essa insegurança é mais dela do que dos pais, a quem insiste em tratar como crianças.
Narrando a história do seu estado comatoso, Bea tem um olhar privilegiado sobre o passado e o presente. Suas avós (interpretadas por Jacki Weaver e Jean Smart, ambas excelentes) vivem num estado de briga constante por ter visões distintas sobre seus filhos e neta. Há também a irmã de Sharon, Joy (Alexandra Daddario), que sempre esteve genuinamente preocupada com a sobrinha, a ponto de cogitar levá-la para viver em sua casa na infância.
A narrativa é um tanto apressada, cobrindo do primeiro encontro entre os pais até o passado recente da protagonista de forma rápida, até que se encontra quando chega ao passado recente da jovem que culminou no coma. O filme tem seus melhores momentos quando se concentra nas relações e nas tensões entre Bea e os pais, mas, às vezes, parece querer cobrir coisas demais e acaba caindo na superficialidade.