Nem todas as mães são felizes. As filhas, menos ainda. Esta pode ser a síntese desta história poderosamente melodramática, ainda mais com o nada sutil título nacional.Vivendo a personagem mais anticonvencional de sua carreira, Michelle Pfeiffer encarna Ingrid Magnussen, uma artista de espírito independente e natureza indomável. Mãe solteira, vive com a filha adolescente, Astrid (a novata Alison Lohman), criando uma redoma em torno das duas. "Somos vikings", ela costuma dizer à filha, como se ambas pertencessem a uma outra espécie.Se por um lado Astrid tem uma educação alheia aos preconceitos da sociedade WASP (White Anglo-Saxan Protestant, ou seja, branca, anglo-saxã e protestante, que define a elite dominante nos EUA), ela verá que há limites também nesta fórmula alternativa. Afinal, sua mãe é nada menos do que uma força incontrolada da natureza, capaz de pôr acima de tudo seus instintos e preceitos, como ao matar, sem hesitação, um namorado (Billy Connolly) que lhe foi infiel.A partir do assassinato, o relacionamento entre mãe e filha será restrito às visitas à prisão, já que a mãe foi condenada a uma sentença de 35 anos. A jovem de 15 anos viverá sempre dividida. Em primeiro lugar, entre onipresença desta mãe controladora mesmo à distância e as diversas mães adotivas que a esperam dali para a frente. A primeira delas é Starr (Robin Wright Penn), uma ex-stripper e alcoólatra que mergulhou fundo no fanatismo religioso. "Você já aceitou Jesus Cristo como seu salvador?", insiste Starr com a filha adotiva. Tanto que acaba convencendo a garota a batizar-se protestante, para horror da iconoclasta Ingrid.Não demora muito e Starr fica violentamente enciumada de Astrid, que adora a companhia de seu namorado, Ray (Cole Hauser). O homem funciona como uma espécie de figura paternal para a garota, numa relação onde o componente sexual acaba aparecendo. Depois de uma briga encerrada com um tiro no braço de Astrid, ela acaba conduzida a um novo lar, junto a um casal sem filhos, formado pela atriz frustrada Claire (Renée Zellweger), e seu marido, um produtor que vive viajando (Noah Wyle). Aqui, entra em cena o violento ciúme da mãe verdadeira, quando percebe o quanto evoluiu a ligação afetiva entre a filha e Claire. O desenrolar desta situação introduz um novo componente trágico e provoca o conflito mais grave entre Ingrid e Astrid, que luta para sair de sua sombra. Baseado no livro de Janet Fitch, Flores Brancas de Oleandro, o filme tem o mérito de iluminar a discussão sobre relacionamentos turbulentos entre mães e filhas. O que há de positivo é que a história foge de muitas armadilhas da pieguice. Mesmo assim, não escapa de um bom arsenal de clichês, que atravancam a trajetória do crescimento de Astrid quase tanto quanto esta mãe feroz. Falta credibilidade, às vezes, no retrato destes muitos lares adotivos negativos onde a mocinha se abrigou. Ainda assim, não há como negar a qualidade dos desempenhos de todo o extraordinário elenco.