20/03/2025
Comédia

Não tem volta

Henrique e Gabriela estavam juntos há um ano. Mas, por conta do ciúme dele, ela o abandona. Desesperado, ele entra em depressão e decide contratar um matador de aluguel contra si mesmo. Mas, logo depois, ele reencontra Gabriela e eles voltam. Agora, Henrique quer desarmar o plano, mas o esquema já está todo montado para matá-lo.

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Rafael Infante se arrisca fora do formato bem-sucedido de Porta dos Fundos para atuar na comédia Não Tem Volta, que investe pesado no humor negro e em reviravoltas ousadas. A aposta merece elogios pela coragem, mas nem todos os ingredientes funcionam da melhor maneira para um bom resultado no filme dirigido por César Rodrigues.


No roteiro assinado por Fernando Ceylão, Henrique (Rafael Infante) é um funcionário de uma revendedora de carros de luxo, mergulhado numa crise interminável de depressão depois que foi abandonado pela namorada, Gabriela (Manu Gavassi). Agora, ele só pensa em morrer e, descontrolado, provoca um acidente com um dos carros, o que só piora sua situação, porque, além do mais, ele fica endividado. 


Sem coragem de suicidar-se, ele consegue o contato de uma empresa de matadores de aluguel, que funciona numa oficina mecânica. Lá, ele encomenda o serviço contra si mesmo para um atônito intermediário do negócio (Roberto Bontempo) - com quem protagoniza uma conversa confessional sobre amores frustrados que é um dos bons momentos da história.
Serviço encomendado, Henrique volta à sua rotina, sentindo-se descompromissado de tudo. Afinal, a qualquer momento, ele vai morrer e acabam seus problemas. Só que não. Um belo dia, ele encontra na rua ninguém menos do que Gabriela. O contato é retomado, a paixão se reacende, e agora? Henrique quer desistir do serviço do matador, mas este é um mundo de regras rígidas. Uma engrenagem em que a encomenda é passada adiante em envelopes sucessivos, para pessoas que não se conhecem, foi acionada. Não tem como voltar atrás.


O humor (negro) da história é extraído dessa jogada dupla de Henrique, tentando levar sua nova vida com Gabriela mas apavorado porque a morte pode bater-lhe à porta a qualquer minuto. Assim, incidentes na rua, pessoas estranhas, comportamentos imprevistos, qualquer coisa lhe causa pânico. E logo agora que tudo parece ir tão bem com a namorada.


Na próxima fase do enredo, a jogada será tentar descobrir quem é o assassino que lhe foi designado e virar o jogo - o que leva o casal a uma estranha festa a fantasia e novas reviravoltas. 


O diretor César Rodrigues é hábil em obter todas as vantagens possíveis da química entre seus protagonistas, que desfilam por cenários conhecidos no Rio de Janeiro e Salvador. Até pelas locações e o tempero romântico, o filme remete a uma certa embalagem de “atração de shopping center” - o problema é que o público que procura esse tipo de diversão nem sempre é estimulado pela sucessiva reversão de expectativas de narrativas como esta, que investem tanto em humor negro e anti-heróis. Aí está a grande jogada de risco de um filme que, afinal, nem chega a ser tão engraçado assim.

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