Talvez o filósofo Aristóteles e o poeta Dante tivessem muito a conversar sobre os mistérios do céu e do inferno, se tivessem vivido na mesma época e lugar, mas não é bem isso que acontece em Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante. Os personagens do título são dois adolescentes latinos vivendo no Texas que, num verão escaldante, começam a compreender melhor os elementos que compõem suas identidades.
Baseado no livro de sucesso de Benjamin Alire Sáenz, e dirigido por Aitch Alberto, o filme acompanha Aristóteles Mendoza (Max Pelayo) e Dante Quintana (Reese Gonzales) em seu processo de autodescoberta no final dos anos de 1980. A diretora, que também assina o roteiro, lida com delicadeza e complexidade com temas complicados, como a descoberta da própria sexualidade numa sociedade que era ainda mais marcadamente conservadora do que a atual – ainda que os tempos de hoje sejam um tanto retrógrados.
A trajetória de Aitch como uma mulher trans certamente a ajudou na compreensão desses dois personagens e suas jornadas. Dante é assumidamente gay, mas Aristoteles, ou Ari, como prefere ser chamado, não sabe muito bem como lidar com seus próprios desejos, numa fase de descobertas na qual tudo é novidade, e tudo pode ser muito confuso.
A dinâmica dos afetos entre os dois garotos é conduzida de maneira sóbria e terna, ao mesmo tempo. Poderia cair numa ostentação militante, mas a cineasta é sagaz o bastante para retratar o relacionamento entre eles com curiosidade e ternura. Há uma química bastante honesta entre os dois atores na condução da história que une Ari e Dante.
O elenco adulto também se destaca nas figuras maternas, com Eva Longoria como Soledad, mãe de Dante, uma mulher moderna e culta, cuja personalidade também conquista Ari. Veronica Falcón é Liliana, a típica mãe mexicana do outro menino, que ao mesmo tempo mima e dá bronca no filho. Talvez o ponto fora aqui seja o ator cômico Eugenio Derbez, como o pai de Ari, um homem que sofre de estresse pós-tramático. A atuação parece não fazer justiça ao personagem.
Os Segredos do Universo por Aristóteles e Dante é um filme com um público-alvo claro. Embora se situe numa época em que não existem celulares ou redes sociais, destina-se a essa juventude de hoje, em sintonia com questões identitárias e a importância de aceitar a si mesmo ou mesma, mostrando que não somos definidos por apenas um elemento – seja gênero, nacionalidade, etnia etc – mas somos o resultado da somatória disso tudo no mundo onde vivemos. Poucos filmes têm tanta clareza para dizer isso.