A saborosa comédia dramática dos diretores argentinos Maria Alché e Benjamín Naishtat (de Vermelho Sol) saiu duplamente premiada do Festival de San Sebastián, com troféus para seu roteiro (assinado pelos diretores) e também para o ator Marcelo Subiotto, que interpreta o protagonista, um professor de filosofia também chamado Marcelo.
Ele leciona na universidade pública de Buenos Aires, onde assentou sua carreira tendo como mentor seu mestre, Eduardo Caselli. Quando este morre repentinamente, abre-se o que parecia ser um caminho seguro para a promoção de Marcelo. Porém, apareceu um imprevisto neste rumo: a chegada de outro professor, Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), que foi estudar na Europa e se transforma num inesperado rival para o posto de professor titular do departamento.
O roteiro se equilibra, numa chave, na composição destas duas personalidades opostas: o contido e metódico Marcelo, uma pessoa dedicada e cuidadosa mas a quem falta um pouco mais de ousadia; e o autoconfiante Sujarchuk, capaz de mostrar-se exuberante, sedutor e vaidoso, conquistando a simpatia de alunos e professores e também até uma atenção midiática, já que namora uma famosa atriz.
Estas duas personalidades distintas abrem caminho à exploração de outra chave que o roteiro igualmente investiga muito bem, o contexto político e social daquele país, em que a universidade pública é depauperada por cortes que levam a paralisações e repressão policial.
Coprodução com o Brasil, Itália, França e Alemanha, o filme é um retrato matizado da classe média argentina, que tem, certamente, inúmeros pontos de contato também com a realidade brasileira - e não abre mão, dentro dele, da ironia e do afeto que unem nossos dois países numa mútua compreensão.