20/05/2025
Suspense Ação

Godzilla minus one

Koichi Shikishima é um piloto kamikaze durante a Segunda Guerra que se sente culpado por não salvar um grupo de soldados que é atacado por um monstro gigantesco. De volta a Tóquio, encontra a cidade devastada pela guerra. As coisas irão piorar quando o mesmo monstro ruma para a capital do Japão. Na Netflix.

post-ex_7

Como retratar um trauma histórico sem o explicitar, fazendo dessa representação algo ainda mais potente? Coloque em cena algo que cause estranhamento, no caso, um monstro gigante com aspecto pré-histórico capaz de emitir radiação. Escrito e dirigido por Takashi Yamazaki, Godzilla Minus One tem, entre suas tantas qualidades, a de mostrar a criatura-título em todo seu esplendor e glória. Ao contrário das produções americanas, no qual aparece quase sempre à noite e/ou durante chuva, o que impede de ser visto direito, aqui ele ataca em plena luz do dia, o que permite que seja ainda mais potente seu caráter ameaçador e destruidor. 

Assim como Godzilla volta ao Japão depois de sua carreira nos EUA, Yamazaki volta às origens do monstro, num país devastado pela Segunda Guerra, sofrendo consequências econômicas e sociais. Dessa forma, o filme traz personagens humanos dotados de dramas pessoais e históricos o que permite ao público se envolver ainda mais com eles, bem como se importar que sobrevivam ao ataque. 

Muito mais barato do que as produções recentes hollywoodianas, Godzilla: Rei dos monstros e Godzilla vs King Kong, esse filme é muito mais emotivo e eficiente, mesmo com efeitos mais baratos, que remetem aos filmes antigos, feitos com pessoas vestindo fantasias e miniaturas de cidades e trens – algumas cenas até são, de certa forma, uma homenagem a essa origem. 

O protagonista é Koichi Shikishima (Ryonosuke Kamiki), um piloto kamikaze que não cumpre seu destino ao fingir que seu avião está com problemas e pousa na fictícia ilha Odo, onde acontece a primeira aparição de Godzilla, que dizima os soldados ali. Sem reação, Shikishima não conseguiu salvar os colegas, como poderia ter feito. 

Ao voltar a Tóquio e à vida civil, ele é ostracizado por ser um kamikaze que não deu sua vida pela pátria. Na cidade, ele conhece Noriko (Minami Hamabe), uma mulher que salvou uma criança pequena e a protege. Eles vão morar juntos no que sobrou da casa da família do protagonista, e recebem a ajuda de uma vizinha mal-humorada, mas de bom coração, Sumiko (a excelente Sakura Ando, de Monster).

A família postiça – Shikishima e Noriko nunca se casam ou sequer ficam juntos – é um arranjo para o tempo de reconstrução do país. O que importa é a sobrevivência, nem que para isso alianças inesperadas precisem ser feitas. A vida vai sendo recomposta, até que Godzilla chega à cidade grande, depois dos testes nucleares americanos no Atol de Bikini. 

Yamazaki combina melodrama, drama histórico e momentos de humor com equilíbrio, mas não há dúvidas de que a estrela aqui é Godzilla, um monstro que, como bem sabemos, mesmo (aparentemente) derrotado ainda sobrevive e volta às telas. E que da próxima vez seja, novamente, numa produção japonesa.

post