Tendo na lista de produtores a família do ícone do reggae, Bob Marley - One Love é um filme quadrado e careta o que é um paradoxo dado o teor revolucionário e incendiário do artista biografado. Cinebiografias já conseguiram ser mais ousadas, vide Capote, ou, em certa medida, Oppenheimer, mas o filme de Reinaldo Marcus Green se contenta em começar e terminar com letreiros explicativos e fazer nada além do básico entre essas duas pontas.
Se há uma salvação aqui é Kingsley Ben-Adir, como o protagonista. Ele brilha sem necessariamente copiar Marley, mas o reinventando como um personagem, uma figura lendária despida do manto de ícone, enfim, humano, embora acima dos humanos comuns. É uma pena que o filme de Green, que tem no currículo King Richard, esteja bem abaixo da competência de Ben-Adir.
A narrativa começa em 1976, com Marley começando a se tornar famoso numa Jamaica dividida e marcada por conflitos políticos, e seu sonho era unir seu país, acabar com a divisão violenta para isso, faria um concerto pela paz em Kingston. Mas a violência está, literalmente, na porta de sua casa, quando ele e sua mulher, Rita (Lashana Lynch). sofrem um atentado. Apesar de se recuperarem, fica claro: é preciso sair da Jamaica.
A figura de Marley, nesse momento, tem um enorme potencial cinematográfico, de militante político a sonhador utópico, ídolo de uma geração, marido apaixonado, mas infiel. Embora central na história da Jamaica, o filme acompanha seu exílio em Londres, sem ter muito a dizer como cinema – apenas o acompanha pelas ruas da cidade, em seus encontros e desencontros e produção de um disco.
Nunca fica claro em One Love como ele revolucionou não apenas seu país como também a música. Flashbacks deslocados jogam momentos da infância e do começo da carreira, mas pouco iluminam a figura carismática de Marley no presente. O pouco que mostra é como o Reggae se tornou uma manifestação artística forte e importante.
O roteiro creditado a Terence Winter, Frank E. Flowers, Zach Baylo e ao diretor nunca se eleva para além de episódico, e, em última instancia, frustrante. O grande momento que se espera no clímax não é mostrado, apenas fotos do acontecimento real servem para ilustrar. Outros momentos-chave também não duram muito na tela: como a paixão de Marley por futebol, seu sonho de fazer um turnê na África ou importância do disco Exodus – letreiros dizem que a revista Time o escolheu como o mais importante do século XX, mas isso nunca vemos, temos de ser convencido por essa carteirada, o que, aliás, é o comum nesse filme.