Participante da mostra paralela competitiva Horizontes, no Festival de Veneza, Sem Coração expande o enredo do curta dos mesmos diretores, Nara Normande e Tião, de 2014, focalizando um grupo de adolescentes no interior de Alagoas em 1996. Nesse grupo, misturam-se garotos e garotas de classes sociais diferentes, como a menina de classe média Tamara (Maya de Vicq) e garotos que flertam com a criminalidade, caso de “Galego” (Alaylson Emanuel).
A sexualidade brotando à flor da pele move esses meninos e meninas, que têm uma espécie de contraponto numa garota que faz parte daquele ambiente, apelidada de “sem coração” por causa de uma operação cardíaca que fez anos atrás - que gera a lenda de que ela teria substituído o coração por uma máquina, quando, na verdade, não será mais do que um marcapasso.
A garota, de nome Duda (Eduarda Samara), é realmente diferente de todos eles, é mais adulta, trabalha ajudando o pai pescador e exerce sua sexualidade de maneira mais decidida.
De todo modo, o foco do filme está nessa dinâmica de turma adolescente explorando os arredores de sua cidadezinha litorânea, arriscando-se em comportamentos não autorizados pelos mais velhos - como invadir a casa vazia de um vizinho. Não é um filme de interpretações tão trabalhadas, optando por uma abordagem, mais fluida, mais lacunar.
O filme pernambucano também tem a diferença de ser uma história ambientada há quase 30 anos atrás, o que fica marcado num noticiário que anuncia a morte de PC Farias, o empresário que ficou famoso por envolvimento em corrupção e que coordenou a campanha de Fernando Collor de Mello à presidência.
De todo modo, é muito positivo que o cinema brasileiro recente esteja voltando seus olhos para a diversidade dos modos de ser adolescente neste tempo e lugar. Está aí aquele que será seu novo público, o cinema precisa falar a sua língua.