15/03/2025
Drama

Back to Black

A ascensão da cantora Amy Winehouse, desde a juventude em Camden, Inglaterra, até a gravação do álbum "Back to Black", que a tornou mundialmente famosa.

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Back to Black começa com Amy Winehouse (Marisa Abela) dizendo que quer ser lembrada por sua música. E, então, durante duas horas o filme mostra escândalos, episódios de abusos que ela cometeu contra si mesma – enfim, tudo, menos sua música, que aparece pouco e mal utilizada no longa dirigido por Sam Taylor-Johnson.

Estranhamente, a diretora tem um gosto pelo mais prosaico, pelas bebedeiras, uso de drogas e os homens que passaram pela cama da cantora, morta em 2011. Pouco se vê Amy num palco, e quando há essas cenas ela está alcoolizada e/ou descontrolada. Quem não conhece a música da artista, fica sem entender como ela ficou famosa, ou pode pensar que ficou famosa só por causa dos tabloides que adoravam os escândalos.

O roteiro, assinado por Matt Greenhalgh, acompanha Amy desde quando ela começa a despontar em pubs em Camden Town, em Londres. Sua carreira é capitaneada por seu pai, Mitch Winehouse (Eddie Marsan), um taxista, que, como se sabe, explorou a carreira e a filha até não poder mais. No filme, no entanto, ele é visto como uma figura carinhosa e preocupada com o bem-estar da filha. Ele nunca pensa em dinheiro. 

Outra figura controversa na vida de Amy é seu marido, Blake Fielder-Civil (Jack O'Connell), com quem ela teve uma relação tumultuada. É curioso que um filme dirigido por uma mulher transforme a protagonista em vilã e pinte como salvadores os  dois homens que muita culpa tiveram na queda da cantora. 

Não que Amy não tivesse se envolvido em escândalos ou abusado de álcool e outras drogas, mas no filme há apenas isso. Não há uma única boa apresentação de uma música dela. A canção que mais sofre aqui é "Valerie", atrocidada em cena. As outras mais famosas, como "Rehab", "Back to Black", e "Frank", ao menos, são mais bem apresentadas. 

A única figura positiva no filme é a avó paterna da protagonista, Cynthia Winehouse, a quem ela chamava de Nan, interpretada com ternura por Lesley Manville. Tomada como seu ícone, como a própria cantora diz, Amy se inspira no seu visual da juventude, uma combinação de penteados de colmeia com pin ups, que se tornaram sua marca registrada. As melhores cenas do filme são entre as duas personagens. 

Há o acerto de se fazer um recorte específico da vida e carreira de Amy, porém o gosto pelo grotesco dá ao filme a mesma abordagem de tablóides que parece querer criticar. A fragilidade e humanidade da cantora estão em segundo plano, pouco aparecem no filme, o que é uma pena. O documentário oscarizado de Asif Kapadia, de 2015, é muito mais sincero e emocionante do que Back to Black, que é um filme para se dizer o mesmo que a cantora disse à família e amigos quando quiseram interná-la numa clínica de reabilitação: “Não, não, não”. 

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