26/03/2025
Documentário

Diálogos com Ruth de Souza

A partir de uma série de conversas com Ruth de Souza, morta em 2019, o documentário resgata a carreira e a militância da atriz, que foi a primeira negra a obter projeção na dramaturgia brasileira. Na Netflix.

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Ruth de Souza não é apenas uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos – ela foi a primeira atriz negra brasileira a obter projeção na dramaturgia brasileira, e a primeira atriz brasileira a concorrer a um prêmio internacional, no Festival de Veneza em 1953, por Sinhá Moça

Todos esses fatos históricos estão no filme Diálogos com Ruth de Souza, de Juliana Vicente, mas o documentário vai muito além de elencar feitos que poderiam muito bem ser descobertos na internet. O que o longa traz, e que o torna único, são os depoimentos da própria atriz em conversas com a diretora.

Juliana teve uma série de encontros com Ruth, que morreu em 2019. O que é mais gostoso no filme é que são conversas despojadas. O carinho e admiração de Juliana pela atriz são enormes e visíveis, mas, ainda assim, ela não a coloca num pedestal. O interesse não é apenas a artista desbravadora que Ruth foi, mas o ser humano que se transformou nessa mulher que revolucionou as artes cênicas no Brasil. Ruth, que estava numa cadeira de rodas na época, tinha vontade de atuar, sentia falta de atuar, mas reclamava que não recebia convites. 

Sem se prender muito a uma cronologia rígida, mas caminhando num fluxo da memória, o longa resgata momentos importantes da carreira da atriz, como na novela A Cabana do Pai Tomás, na qual duas atrizes brancas ficaram indignadas ao saber que Ruth estava na frente delas na preferência da direção para o papel da mulher do protagonista – esse interpretado por Sérgio Cardoso em blackface

Ruth participou do  grupo Teatro Experimental do Negro (TEN), liderado por Abdias do Nascimento, que abriu caminhos para mais atores e atrizes negras. No final da década de 1940, ela recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller, passando um ano nos Estados Unidos, estudando na Universidade Howard, em Washington, na escola de teatro Karamu House, Cleveland, e também na Academia Nacional do Teatro, em Nova York. Lá ela fez amizades e se aprofundou em métodos de interpretação. 

Tudo isso é narrado pelo fio da memória de forma terna e, às vezes, melancólica. Mas a diretora é muito ciente da importância e dos grandes feitos de Ruth de Souza, e eleva o filme ao observá-los com um carinho de fã e admiradora. É uma bela homenagem à grande atriz que, em 2019, foi tema da Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz, no Rio. 

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