21/01/2025
Comédia

Casamento Grego

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O que mais impressiona neste filme é o quanto ele não tem nada para impressionar. A história é comum, os protagonistas, gente de carne e osso, embora os toques de exagero familiar sejam levados ao limite para efeito cômico. Esse "nada demais", porém, funcionou em grande estilo nos EUA, onde o filme faturou US$ 185 milhões entre abril e começo de novembro de 2002. Coisa que deixou rindo à toa os produtores do filme, os atores Tom Hanks e sua mulher, Rita Wilson, que apostaram no potencial da história, adaptada de um monólogo teatral de sucesso em Chicago, de autoria de Nia Vardalos - que faz a protagonista no cinema.

A primeira razão deste sucesso, sem dúvida, é a empatia que o público sente desde o primeiro momento com a protagonista, Toula (Nia Vardalos). Entrando nos 30 anos, gordinha, feiosa, sem charme nem alegria, a moça ainda não se casou, para desespero do papai Gus (Michael Constantine) e, um pouco menos, da mamãe Maria (Lainie Kazan). Família grega de prezar suas raízes na fronteira do folclore, capaz de morar numa quase réplica do Parthenon, os Portokalos esperam que a filha se case com um grego, tenha filhos gregos e faça bastante comida para todo mundo pelo resto de seus dias. No mínimo, Toula está frustrando esta expectativa - terrível, sob seu ponto de vista. Mas o pior ainda está por vir, pelo menos para seus pais.

Ela acaba se apaixonando, sim, mas não por um grego. É por um americano, Ian (John Corbett, do seriado Sex and the City), que vem daquele tipo de uma família que os americanos chamam de WASP (White Anglo-Saxan Protestant, ou seja, branca, anglo-saxã e protestante). Com pais comportadíssimos, chiques e discretos (Fiona Reid e Bruce Gray), o rapaz fica encantado com a trupe feia, gorda, espalhafatosa mas indiscutivelmente festeira formada pelos parentes de sua namorada. Esse detalhe não deixa de ser um comentário interessante. Afinal, a família tradicional americana média, retratada como portadora de muita hipocrisia e ignorância geográfica, também merece ser alvo de piada. Como todo mundo, aliás.

Outro toque ótimo é que todas as pessoas do filme são o oposto do padrão top model consagrado pela mídia. Ou seja, há gordinhos, narigudos, carecas, sem esquecer os figurinos e penteados, assumidamente cafonas. Essa ironia com os gregos não vai longe demais, porém. Mostrando-os como um povo espontâneo, alegre e que adora comer - demais, é certo -, eles compõem na tela um novo parâmetro étnico de comédia, no bom sentido, com as famílias gregas mostrando-se tão comilonas e controladoras quanto as italianas e judias, digamos. Se não se pode elogiar a originalidade do filme, pode-se creditá-lo ao menos com o esforço de renovar esse clichê. Não deixa de ser oportuno, também, incutir uma mensagem antiglobalização e pró-diversidade cultural neste momento particularmente xenófobo da era Bush.

Mas é claro que ninguém vai assistir a um filme desses para refletir sobre questões políticas, e sim para se divertir sem exigir demais. Neste caso, Casamento Grego é programa indicado.

Cineweb-8/11/2002

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