17/03/2025
Drama

A metade de nós

Quando o filho de Francisca e Carlos se mata, eles entram num processo de luto profundo, tentando compreender o que aconteceu e lidando com a culpa que sentem. Cada deles, no entanto, enfrenta esse processo de forma distinta. Nos cinemas.

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Costuma-se dizer que num caso de suicídio não é apenas o suicida quem morre – a família padece e muitas vezes não consegue se recuperar. A Metade de Nós, primeiro longa de Flavio Botelho, investiga como essa dinâmica se dá na vida de um casal de idosos, pais de um jovem que se matou. 

Não é, obviamente, um filme leve, especialmente pelo tema desse luto, mas  Botelho, que também assina o roteiro, procura caminhos que não sejam mórbidos na investigação da vida dos pais após a tragédia que, de certa forma, toma um novo sentido ao tentarem entender o que aconteceu. 

O grande acerto do filme, no qual, exclusivamente, ele consegue se sustentar, é a presença da dupla central, composta por Denise Weinberg e Cacá Amaral, que interpretam Francisca e Carlos. São dois grandes intérpretes que trazem nuances aos personagens, colocam-nos num patamar acima da mediocridade que assola tantos personagens e atores nacionais. Há densidade, mas essa também é composta, em enorme camada, pelo trabalho da dupla em cena. É neles que o filme se apoia o tempo todo. 

A culpa que sentem é enorme. Onde erraram?, é sempre a primeira pergunta. A busca pelo psiquiatra do jovem – ele também teria sua parcela de culpa – não esclarece nada. Resta a Francisca e Carlos lidar com o peso sozinhos, e cada um resolve de um jeito. 

Narrado pelo ponto de vista desse pai e dessa mãe repletos de questionamentos que talvez nunca sejam esclarecidos, A Metade de Nós acerta também em se construir em ambiguidades. Quem era esse filho que talvez eles não conhecessem tão bem quanto achavam que conheciam? Nós, o público, temos acesso apenas ao que os pais têm.

É, basicamente, uma jornada em vão, pois nunca haverá uma resposta sobre o que aconteceu. Os motivos jamais serão esclarecidos – até porque quem poderia esclarecer é o próprio filho que não está mais aqui. E os pais jamais poderão se convencer de não terem culpa, sempre acharão que teria sido possível evitar. Diante disso, cada um toma um caminho, tentando enfrentar essa dor que jamais passará. Delicadamente, o filme acompanha os dois e dá chance à dupla central de brilhar num filme no qual a emoção nunca sai do tom – o que já é uma grande qualidade. 

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