A essa altura, dispensa-se o aposto que costuma seguir o nome de Mia Goth: “a neta da atriz brasileira Maria Gladys”. A atriz, que nasceu na Inglaterra e já morou no Brasil, consolida sua carreira e seu posto de screen queen com Maxxxine, parte final da trilogia X, de Ti West. Depois de deixar para trás seu passado na indústria de filmes pornográficos, a protagonista agora quer conquistar Hollywood.
Os anos de 1980 são o cenário perfeito para uma sátira ao mundo dos excessos e à cultura que de certa forma nos formou até hoje nos moldes do neoliberalismo. Não à toa, Boogie Nights – Prazer sem Limites e Psicopata Americano são dois filmes sobre esse momento em que reverbera o presente. Maxine não é diferente, com o sonho de ascensão da protagonista e o neon yuppie daquela era.
A personagem tenta achar trabalho e acaba num “filme B com ideias A”, conforme explica uma diretora de cinema. E talvez essa seja a melhor definição da trilogia de West, que também assina o roteiro. Mais do que homenagear, o cineasta se apropria da estética daquela era, seja na fotografia, direção de arte ou trilha sonora.
Maxine Minx, a única sobrevivente do massacre em X - A Marca da Morte, busca a fama e acaba indo parar num filme chamado A Puritana 2, dirigido por Elizabeth Bender (Elizabeth Debicki), que vê na jovem atriz a força da natureza que procura para seu longa. Seria tudo muito perfeito, se Maxine não sofresse com traumas do que aconteceu no Texas ou pela culpa introjetada pelo seu pai televangelista. Nesse mesmo momento, a sociedade é tomada pelo conservadorismo materializado na figura de Ronald Reagan, ex-ator e presidente dos EUA na época.
Goth é a força da trilogia. No primeiro longa, ela foi Maxine, namorada do diretor de filmes adultos e atriz, além de interpretar a idosa Pearl. No longa seguinte, uma prequel, foi a jovem Pearl, com seu sonho de ser uma estrela, e um sorriso estampado no rosto. Aqui ela é o filme. Seus olhos (a música Bette Davies Eyes, de Kim Carnes, faz uma participação no filme), novamente, seu sorriso e seu appeal constroem a personagem em Maxxxine, e elevam Goth a um novo patamar de merecido estrelato.
Há um serial killer chamado Perseguidor Noturno aterrorizando Los Angeles, mas Maxine diz que pode cuidar de si mesma, e pouco se importa. Esse assassino despertou também a ira conservadora por representar a violência contra os seus valores. A histeria moral é forte, o que não é tão diferente dos dias de hoje. O puritanismo perseguindo e matando é um tema recorrente na trilogia.
E é nisso que os filmes de West são mais bem sucedidos. Situam-se no passado, mas fazem um comentário ácido sobre o presente, seja no conservadorismo que domina as sociedades, ou no desejo de fama a qualquer preço. Atualmente, no entanto, ser famoso é mais fácil do que nos anos de 1980, e não há dúvida de que Maxine seria uma tiktoker de sucesso.