26/03/2025
Drama

Todas as estradas têm gosto de sal

Nascida e criada no sul dos EUA, Mackenzie recorda sua vida, desde a infância ao lado dos pais, passando pela paixão irresolvida pelo amigo de infância Wood e sua relação especial com sua irmã, Josie.

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Lançado no Festival de Sundance 2023 e incluído entre os dez filmes independentes mais promissores do ano pela National Board of Review, o longa de estreia da diretora e roteirista Raven Jackson sintoniza o fluxo de memórias da protagonista, Mackenzie - interpretada, quando menina, por Kaylee Nicole Johnson, e quando adulta, por Charleen McClure.

Sendo assim, o ritmo do filme será fragmentado, não-cronológico e contemplativo, apoiado na bela fotografia em 35 mm de Jomo Fray, com a montagem meticulosa de Lee Chatametikol. Não existe a preocupação de fornecer explicações, já que a proposta evidente é convidar seus espectadores a mergulharem nessa torrente de imagens, numa narrativa que recorre frequentemente a metáforas com a água.

A primeira cena já remete a essa convivência com a água, vendo-se Mack menina sendo ensinada pelo pai, Isaiah (Chris Chalk), a pescar, observando-se a relutância da garota em interromper a vida dos peixes. Todas as cenas conduzem a esse ritmo de pensamento, em que Mack percorre as lembranças de sua convivência com a irmã, Josie (Jayah Henry), a mãe, Evelyn (a atriz ugandense Sheila Atim, vista em A Mulher Rei), e também o seu amor da vida toda, Wood (Reginald Helms Jr.). 

Nessa jornada de uma mulher negra no sul dos EUA - a diretora cresceu no Mississippi -, há ecos do estilo de Terrence Malick, inclusive nessa despreocupação em fechar lacunas e explicar situações. Raven, como Malick, investe toda a sua energia no poder das imagens, pontuando as vivências de Mack com a amizade, o amor, a morte, a renúncia, de forma a dar respiro, injetar lentidão, como se o tempo pudesse ser detido entre os dedos, escorrer como água em que se procura alguma solidez na areia que fica no fundo do rio - um gesto que Mack repete, mais de uma vez, e que revela um poderoso efeito simbólico, como se ela pudesse ao mesmo tempo filtrar suas vivências, procurar o ouro que reste delas e também lavar os dedos dos resquícios que não servem mais. 

De todo modo, o filme marca a descoberta do talento desta diretora ainda iniciante e de todo um elenco promissor, que se espera ver em muitas outras produções futuras. O título poético remete a um ensinamento compartilhado pela avó de Mack com as netas - e o filme tem tudo a ver com a passagem dessa herança feminina entre gerações.

 

 

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