Marcado pelo soul e o funk, o documentário Black Rio! Black Power! traz para a tela os famosos bailes que fomentaram o movimento negro no Rio de Janeiro nas décadas de 1970 e 1980. Partindo da história de Dom Filó e da equipe de som Soul Grand Prix, o filme resgata esse episódio com depoimentos em primeira pessoa de antigos frequentadores dos bailes.
Dirigido por Emilio Domingues, o filme tem como cenário o salão onde os bailes aconteciam, hoje uma quadra de esportes. Com imensas caixas acústicas ao fundo da tela, homens e mulheres contam experiências pessoais que reverberam coletivamente na história do movimento negro.
Com esse dispositivo, o longa aborda de maneira direita e honesta o racismo estrutural do país. Os bailes eram um espaço de empoderamento, onde as pessoas reafirmavam sua negritude de maneira plena. Isso, aliás, gerava apreensão no governo ditatorial do país à época, fazendo que, não poucas vezes, a polícia invadisse os eventos.
Se o racismo surge de forma um tanto adjacente, embora sempre presente, são os bailes que iluminam os rostos dos entrevistados e entrevistadas ao se lembrar da juventude marcada pelo soul e pelas descobertas, seja de suas próprias identidades ou do amor.
Embora seja um tanto convencional na forma, o documentário se destaca ao abordar – especialmente para as novas gerações – momentos históricos de grande importância à comunidade negra carioca, e, possivelmente, de todo o Brasil. A década de 1970, herdeira das utopias dos anos anteriores, é marcada pelo enfrentamento e consolidação de lutas que começaram no passado, e, nesse sentido, os bailes foram fundamentais no fortalecimento do movimento negro e da identidade negra no país.