Apesar do nome no plural, o documentário de Ludmila Curi focaliza, em sua maior parte, uma única Maria, a Prestes. Pernambucana, filha de camponeses, ela foi militante comunista desde a adolescência, anos depois tornando-se companheira do maior líder comunista do país, Luiz Carlos Prestes, mas teve luz própria e foi muito mais do que apenas a mulher por trás do grande homem.
Verdade que, para justificar seu título, o documentário menciona em seu início três outras Marias que inscreveram, de um modo ou de outro, sua marca na história do País: Maria Bonita (nascida Maria Didéia), Maria Quitéria e Anita Garibaldi (que nasceu Maria de Jesus). Mas essas referências são rapidamente abandonadas em favor de Maria Prestes, que se percebe ser a protagonista desta história.
A diretora filmou e conversou com Maria por 5 anos em várias de suas andanças pelo Brasil, militante ativa que foi até idade avançada,realizando palestras e encontros em assentamentos do MST e em vários locais em que a luta popular se organizava e sua presença era convocada. Sua casa era também palco de concorridas reuniões com lideranças populares, vendo-se numa delas a vereadora carioca Marielle Franco, que pouco depois seria assassinada.
Não admira que a presença de Maria fosse tão requisitada, já que carregava uma história pessoal plena de experiências. Ela conheceu Luiz Carlos Prestes em 1952, encarregada de lhe dar proteção na clandestinidade e acabou tornando-se sua companheira por cerca de 40 anos, mãe de sete filhos com ele, fora os dois que ela tinha de ligação anterior. Maria viveu com ele e os filhos inclusive nos 10 anos de exílio na então União Soviética, retornando a família ao Brasil após a anistia de 1979.
É visível que Maria Prestes seria originalmente a única protagonista deste documentário, mas sua decisão, depois de cinco anos de filmagem, de não autorizar o uso de sua imagem nem de sua voz, mudou o rumo das coisas. O que é uma pena, mas não invalida o esforço de iluminar um pouco a trajetória de uma mulher rara e forte, que morreu de Covid-19 em fevereiro de 2022, aos 92 anos.