17/02/2025
Drama

A Contadora de Filmes

Vivendo na região do Deserto do Atacama, a família da pequena Maria Margarita é apaixonada por cinema. A crise financeira, no entanto, impede que todos vão ao cinema. Assim, a menina assiste aos filmes e os reproduz conta para os pais e os irmãos. Mudança políticas e pessoais, no entanto, marcarão a vida do clã.

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A Contadora de Filmes é o que se pode chamar de um produto da globalização. Baeado num romance do poeta chileno Hernán Rivera Letelier, o longa, ambientado no Chile, é roteirizado por dois espanhóis (Rafa Russo e Isabel Coixet) e um brasileiro (Walter Salles, que fez uma primeira versão do roteiro anos atrás), dirigido por uma dinamarquesa (Lone Scherfig), protagonizado por uma argentina radicada na França (Bérénice Bejo), um alemão (Daniel Brühl),e, finalmente, uma atriz chilena (Sara Becker). Ufa! 

Não que as histórias precisem ser contadas por pessoas nascidas no lugar onde se passam, mas esse samba da globalização contemporânea doida rendeu um filme destituído de identidade, uma tentativa de ser uma espécie de Cinema Paradiso chileno, mas frio e protocolar, feito de uma forma quase mecânica, seguindo os moldes da cartilha hollywoodiana, pegando pesado numa emoção forçada que não emociona, exatamente, por ser artificial. 

A personagem do título é Maria Margarita, que acompanhamos desde a infância, interpretada por Alondra Valenzuela, até que, tempos depois, Sara Becker assume o papel. Ela vive numa área mineira, no começo dos anos de 1970, no Deserto do Atacama, com sua família, composta pela mãe, Magnolia (Bejo), frustrada por abandonar suas aspirações artísticas, o pai que trabalha numa mina, Medardo (o espanhol Antonio de la Torre), e seus irmãos. No local, também mora o gerente da mina Hauser (Brühl).

A família é apaixonada por cinema, e vão todos ver os filmes mais variados, de Glória Feita de Sangue a O homem que matou o facínora. Não há restrição de gênero, mas, geralmente, são filmes estadunidenses. Até que uma crise financeira impede que o clã possa continuar frequentando o cinema, então, encontram uma solução: um dos filhos irá ao cinema, e depois contará a todos o que viu. Nenhum dos meninos se mostra apto à função, até que Maria Margarita se revela uma narradora nata em sua habilidade de interpretar, entonar e divertir. 

Essa é a melhor parte do filme, quando Scherfig encontra humor sem deixar de lado a melancolia da situação. O tempo passa rápido, os anos voam, sem que o filme se aprofunde na história do país. A menina do começo agora é uma jovem adulta que trabalha como faxineira e também ganha um dinheiro contando filmes a pessoas do vilarejo. A partir desse momento, tudo é apressado, na vida da personagem e nos acontecimentos políticos do país, que culminam na morte de Salvador Allende, e na tomada de poder pelo golpe do general Augusto Pinochet. 

O mundo real, até então esquecido pelo filme, bate à porta da casa da protagonista, e A contadora de filmes tem muita dificuldade de lidar com isso, de compreender o peso de uma ditadura. Talvez um diretor ou diretora latino-americana desse mais conta dessa complexidade do que a dinamarquesa. 

 

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