Densa e com múltiplas referências literárias, The League Of Extraordinary Gentlemen tornou-se nos últimos anos um fenômeno internacional no mercado de quadrinhos. Com diálogos impertinentes e uma capacidade de aventuras ilimitadas, o pastiche da dupla Alan Moore e Kevin O'Neill agrada pela perspicácia de seus protagonistas e pela miscelânea de personagens extraídas diretamente de clássicos da literatura inglesa do período vitoriano, no final do século XIX. Lendo a HQ percebemos que "Cavalheiros extraordinários" nada mais é do que um eufemismo para "monstros", conceito que pode ser usado para identificar a turma de seres sobrenaturais participantes da tal Liga. Com seus poderes excepcionais, o grupo torna-se indestrutível ao reunir Allan Quatermain, protagonista de As Minas do Rei Salomão - entre outros romances de H. Rider Haggard -, Dr. Griffin, O Homem Invisível, criado por H. G. Wells, Dr. Jekyll e o senhor Hyde, de O Médico e o Monstro, escrito por Robert Louis Stevenson. Todos eles liderados por Wilhelmina Murray, protagonista de Drácula, de Bram Stoker, ao lado do capitão Nemo, herói de 20.000 Léguas Submarinas, criado por Julio Verne (única exceção, já que Verne era francês).Não demorou muito para uma história com esse calibre cair nas mãos dos estúdios americanos, e, assim, ser eternizada também pelo cinema. No entanto, como acontece na maioria das adaptações dos quadrinhos para as telonas, o resultado final de A Liga Extraordinária é decepcionante, seja para quem acompanhou as edições de HQ, seja para quem apenas gosta de ir ao cinema para ver um bom filme de aventura. Algumas mudanças realizadas para conseguir adaptar o gibi são desastrosas, como por exemplo, o líder do grupo ser Allan Quatermain, rompendo com a proposta de Moore e O'Neill. Mas isso é apenas uma falha dentro da sucessão de erros cometidos pelo diretor Stephen Norrington (Blade - o Caçador de Vampiros) e seu roteirista James Dale Robinson. Com uma trama frágil e um desenrolar enfadonho, as peripécias do grupo não chamam a atenção de seu público, perplexo frente à falta de emoção da aventura. No filme, tudo começa quando o vilão Fantom cria as armas mais poderosas que o mundo já viu (vale lembrar que estamos em 1889, e as armas não eram lá tão poderosas assim) e ameaça a paz européia. Prestes a começar o que seria uma guerra mundial em 1889, o Império Britânico, na figura misteriosa de M., reúne a liga para impedir Fantom. Com algumas reviravoltas previsíveis, o grupo acaba em situações bastante arriscadas, mas nada sério demais para eles, que além de vencer o inimigo, devem aprender valores como trabalho em equipe, solidariedade e confiança. Isso não quer dizer que as personagens sejam maçantes, pelo contrário. São apenas desperdiçados pelo insosso roteiro. Sean Connery, que há muito não recebe um papel sequer mediano, enquadra-se muito bem como Quatermain, ou mesmo Peta Wilson (que faz La Femme Nikita, na TV) interpretando a vampira Mina Harker são os destaques. Os demais sofrem do mesmo mal, sem serem explorados. Erro grosseiro, nesse sentido, se encontra no conflito psicológico de Dr. Jekyll e o senhor Hyde, uma torrente de absurdos de difícil compreensão. Mas, nada se compara à introdução de Dorian Gray na história. Nas mãos do ator Stuart Townsend (Lestat, de A Rainha dos Condenados), o personagem deveria ser considerado uma vergonha por todas as pessoas que já leram a obra do irlandês Oscar Wilde. Com péssimos diálogos e um comportamento extremamente efeminado, este Dorian apenas macula a produção, que realmente poderia dar certo, em mãos mais experientes ou pelo menos criativas. Se seguirmos os conselhos de Wilde e acreditarmos que "o tédio é a única coisa horrível desse mundo, o único pecado que não tem perdão", os produtores de A Liga Extraordinária estariam numa difícil situação.